O Rio é, sem dúvida, a porta de entrada do Brasil e uma das principais Maravilhas do Mundo, repleto de viajantes que procuram experimentar um pouco mais desta cultura única ou marcar sua lista de desejos: o Cristo Redentor, o carnaval, a praia de Copacabana, os botecos típicos, entre muitas outras experiências.
Eu, como um bom empresário paulista, me apaixonei pela cidade, pela sua natureza, a festividade, a música, e também pelo seu próprio caos organizado.
A cidade, que vive do turismo, foi pega de surpresa e, assim como o resto do mundo, teve que parar. Parar por completo, onde mesmo o trabalhador informal, que já vive sem regras, teve que se recolher. A cidade respirou e fez com que todos pudessem refletir, mas principalmente repensar as suas prioridades, sejam elas relacionadas à família, valores, à importância de ter uma reserva financeira ou mesmo de ter que se preparar para o imprevisível, o que deve se tornar mais frequente neste novo mundo.
É triste e duro digerir o que estamos vivendo, principalmente para o carioca, que explora de forma extraordinária o belíssimo outdoor que a cidade oferece, mas por outro lado, vejo como uma grande oportunidade de dar um “Reset” e ter um novo começo.
O Rio, em grande parte, replica as experiências que encantam os seus turistas da mesma forma há muitas décadas; neste sentido, vejo uma grande oportunidade de recriar e ressignificar tudo de maravilhoso que já fazemos.
O setor de turismo foi duramente afetado e, para os Hotéis Emiliano, não foi diferente. Vínhamos num momento de ouro na cidade, com consistência e muito otimismo pela frente, mas fomos obrigados a tomar decisões muito difíceis, mesmo sem ter os elementos adequados em mãos. As regras mudavam a todo momento, e o apoio do governo demorou a chegar.
Agimos rápido. Em apenas uma semana do início da pandemia no Brasil, já tínhamos a estratégia traçada. Nos preocupamos em cuidar de nossos clientes, hóspedes e membros da equipe. Demos continuidade e ampliamos nossas ações sociais, entendendo que era a hora que mais precisavam, e procuramos aprender com os melhores especialistas sobre o novo vírus. O Dr. Esper Kallas, infectologista paulista, nos trouxe detalhes e muitos aprendizados sobre a Covid-19.
Isso nos deu muita segurança em como proteger nossos clientes, mas principalmente o nosso time. Muito do que apenas hoje é publicamente assumindo como melhores práticas, já está implementado com rigor em nossos hotéis, desde o final de março, muito antes de se tornarem obrigatórios.
Através dos canais digitais, estendemos experiências do hotel neste momento de recolhimento, por meio de tutoriais de como fazer as receitas prediletas de nossa cozinha, ou até vídeos de nossas camareiras ensinando como fazemos a nossa cama, entre outros. Contamos também o segredo de como deixar os nossos travesseiros impecavelmente na vertical.
Para a comunidade, reforçamos a venda dos nossos pijamas de luz, pijamas feitos com os nossos maravilhosos lençóis, o qual destinamos 100% do lucro para o Solar Meninos de Luz, que cuida das crianças das comunidades do Pavão e Pavãozinho. Doamos alimentos, foi 1,5 tonelada para a Gastromotiva, que alimenta os mais vulneráveis do Centro. As nossas toalhas de mesas, através do trabalho do Instituto Caça-Fome, viraram 15 mil máscaras e, por fim, mais lençóis foram doados para hospitais de campanha da Rede D’Or.
No âmbito pessoal, como um líder que coordenava 400 pessoas naquele momento, mais uma vez tive que ser forte e dar o meu máximo. A nossa cultura e valores falaram mais alto, reforçando novamente a sua importância. Houve muita aflição, e o ciclismo, esporte que pratico quotidianamente, me ajudou a espairecer e explorar as diferentes soluções para os desafios que passavam em minha mente.
Meio ano já passou, e teremos um segundo semestre diferente. Infelizmente, muitos pontos tradicionais, que já não vinham muito bem, vão fechar, dando oportunidade para um novo começo. Poderemos explorar de uma nova forma todo o cenário da cidade, incentivando a locomoção de bicicleta, e também tendo mais segurança e estrutura para os seus eventos ao ar livre.
Em relação ao perfil dos turistas na cidade, seja pelas restrições de viagem, pelo câmbio elevado ou mesmo pelas incertezas do momento, me arrisco a dizer que, neste fim de ano, contaremos com a maior quantidade de brasileiros já vista. O Rio voltará à sua essência e celebraremos como nunca, com uma verdadeira e autêntica experiência carioca e brasileira.
Mais uma vez, vejo uma oportunidade única para o Rio renascer. É a grande chance de recarregarmos as energias da cidade de brasilidade, fazendo que esta experiência maravilhosa, que é o Rio, seja ainda mais encantadora.
Gustavo Filgueiras é sócio e CEO do Grupo Emiliano de Hotéis, marca que chegou ao Rio em 2016. Formado em Arquitetura e Urbanismo, é apaixonado, além da família, por gastronomia e champanhe – é ele quem faz a carta de bebida dos restaurantes dos hotéis. É considerado grande anfitrião; em suas estadas cariocas, sempre recebe convidados na Sala Charles, com shows pequenos, mas com grandes artistas.