Desde a primeira semana de isolamento social, muitas questões começaram a surgir na cabeça das minhas pacientes grávidas (principalmente) e também não grávidas: o que a Covid poderia causar tanto nelas quanto nos bebês, ainda por nascer? Para nós, ginecologistas e obstetras, tudo também era muito preocupante por ser uma doença nova, portanto com poucas informações científicas. Um primeiro trabalho chinês, com 34 pacientes que tiveram filhos durante a epidemia na China, era o único que tínhamos.
Nesse estudo, um certo alento porque, aparentemente, o vírus não causava doenças nos futuros bebês, diferentemente de tantas viroses, como rubéola, citomegalovírus, toxoplasmose e outras, muitas com malformações. Já era uma boa notícia para passar para elas! Depois surgiram outros trabalhos já em território europeu (Inglaterra, Itália, Espanha e França), confirmando a não interferência do vírus no bebê. Foi uma ótima notícia!
Algumas vezes, o parto poderia ser antecipado, não pelo bebê, mas pela mãe, se começasse a passar mal, já que as grávidas têm um sistema imunológico reprimido; a imunidade é mais baixa durante a gravidez. Outros questionamentos e dúvidas das mulheres eram onde ter seus filhos! No Rio, temos, na Zona Sul, três maternidades: uma menor (Casa de Saúde Santa Lúcia) e duas maiores (Casa de Saúde São José, mais tradicional e antiga, e Perinatal de Laranjeiras).
Para nós, equipe e eu, priorizamos a São José por fazer parte de um hospital geral com vários outros serviços associados, para, em caso de qualquer outra complicação, estarmos mais bem assistidos. Por outro lado, o fato de a casa de saúde estar em um hospital, algumas grávidas discutiam se seria perigoso para elas e seus bebês estarem em determinado hospital. Conversando com os pais, mostrávamos que esse receio não se justificava, tendo todos os nossos partos realizados na São José.
o Brasil, o nascimento de um bebê é um acontecimento com festa, bolo, brindes, champanhe, quadro na porta e outras coisas mais. Aí, surge um problema: não poder receber visitas, somente uma pessoa da família (marido, mãe ou qualquer outro), e nada de festa para comemorar a alegria do nascimento do filho, sem poder compartilhar esse momento com os entes queridos. Nós fechamos o consultório.
Com as consultas sendo agendadas por telefone, conseguimos centralizar, em dois dias, as urgências com todos os cuidados possíveis. Chegou junho; já são três meses de quarentena! Hoje, os temores já diminuíram, um receio aqui ou ali, mas as mulheres estão mais seguras. Já estar provado que nada acontece ao bebê, deixa as mães mais tranquilas; agora, já percebo menos temores, de maneira geral. De minha parte, afirmo que nem a gravidez nem o bebê são prejudicados pela Covid.
Carlos Dale é ginecologista e obstetra, grande nome dessa área da Medicina no Rio, com consultório em Botafogo. Està à frente das cirurgias de vídeo do Hospital Fernandes Figueira, da Fundação Oswaldo Cruz. Com 40 anos de formado, afirma que, a começar hoje, escolheria exatamente essa profissão.