O termo sanidade já é, por si só, controverso visto que, até certo ponto, o conceito depende da aceitação social/cultural de determinado conjunto de comportamentos amplamente aceito por algumas sociedades, enquanto para outras, considerado um absurdo, uma anomalia, um desvio inaceitável punível até com a morte.
Todavia, ultrapassadas essas diferenciações geográficas e culturais, olhando exclusivamente para o Brasil, eu tenho me perguntado, diante do que tem acontecido, como manter a sanidade num lugar desses? No contexto político, apesar de terem acontecido coisas inimagináveis, tal como a prisão de vários expoentes das diferentes facções políticas, que por aqui chamam de partidos políticos, a loucura das “narrativas” pró e contra, desse ou daquele político de estimação continuam agredindo o senso comum de qualquer sanidade mediana.
Lembro-me da gravação da ex-mulher discutindo com o político, falando das contas na Suíça, na qual ele explicava o contexto de como recebia aquele dinheiro. Quando veio a público, rapidamente a ex passou por problemática mental, e o político continua até hoje assessorando uns e outros.
Filhos e filhas de políticos em destaque, de uma hora para a outra, enriquecem fora ou dentro da política, num efeito que supera qualquer questão ideológica ou matemática básica — um efeito quase que automático. Sem falar nos últimos desdobramentos escatológicos envolvendo o caso do ex-faz tudo, da atual família política em evidência.
Num lugar onde a omissão é geralmente muito bem paga e muitíssimo bem aceita e até incentivada pela sociedade e pelo poder público, onde a ação contrária ao crime é tida inúmeras vezes como ato de exibicionismo e autopromoção, podendo custar muitíssimo caro ao delator que não quer se tornar cúmplice, o que vi hoje agrediu minha já debilitada sanidade.
Certa vez, meu grande amigo, diante de minhas queixas de depressão, fruto de meus constantes embates em defesa do ambiente, me informou que a tal depressão nada mais era que um claro sinal de consciência do caos e do descaso em que vivemos bem como não aceitação dessa realidade imposta.
Segundo ele, aceitar como normal tudo que acontece de anormal nesse lugar é o verdadeiro sinal de insanidade social da qual eu não participava e consequentemente sofria de alguma forma. Portanto, minha depressão, apesar de amarga, era sinal de que eu ainda dispunha de sanidade e não tinha enlouquecido, segundo quem entende do assunto. Ao voltar para casa, resolvi desabafar nessas linhas o peso que sinto na alma ou o nome que queira se dar, diante do que vejo. Apenas isso.