Numa das idas a um mercado em Copacabana, esta semana, o morador Augusto César encontrou uma foto jogada numa rua; curioso, levou-a pra casa. Em plena pandemia, qualquer gesto ou coincidência tomam um rumo diferente. Ao pesquisar a imagem, descobriu que se tratava do médico Bezerra de Menezes (1831-1900) ao lado da mulher, Cândida Augusta, tirada, provavelmente, em 1865 — à época, ele, com 34, e ela, com 17. “A imagem estava em pé num cantinho; acredito que o gari não teve coragem de jogar fora. Em minhas pesquisas, encontrei uma igual na Casa de Recuperação e Benefícios Bezerra de Menezes, em Botafogo. É uma história muito interessante e bonita por trás desse homem que chegou a ser chamado ‘o médico dos pobres’, pois atendia de graça quem não podia pagar”, diz César, que postou a descoberta num grupo de moradores do bairro.
A interação foi grande: a maioria de pessoas da religião espírita associou a “descoberta” a uma mensagem para o momento atual. “Não sei se eu encontrei a foto, ou ela que me encontrou”, brinca César. Bezerra foi considerado o “Alan Kardec” brasileiro por muitos adeptos do espiritismo e patrono de centenas de instituições em todo o mundo. Muitos seguidores acreditam, ainda, que ele continua, em espírito, a orientar e influenciar o movimento espírita. Em 2008, a vida do médico foi para os telões, com o filme “Bezerra de Menezes — O diário de um espírito”, com direção de Glauber Santos Paiva Filho e Joel Pimentel, tendo no elenco Carlos Vereza no papel-título.
Um dia depois, César teve que fazer uma repostagem com a imagem, depois de tantos comentários sobre a diferença de idade do casal. “As pessoas afirmaram que ela parecia triste. Em primeiro lugar, as pessoas não sorriam em fotos antigamente e tinham que ficar paradas por muito tempo na mesma posição. Em segundo lugar, há 150 anos, no Império, as meninas casavam muito cedo. As mulheres não tinham vagas de emprego, então os pais ficavam muito preocupados com a segurança material das filhas e viam no casamento uma solução. Ele era um homem admirável e praticava a caridade, um ícone do espiritismo no Brasil. Cândida era meia-irmã da primeira mulher de Bezerra e cuidava dos filhos da irmã, que havia morrido; dessa forma, sua família já conhecia o caráter do médico. Eles tiveram 12 filhos e ficaram juntos até o fim da vida. A despeito da diferença de idade, acredito que foi uma longa e linda história de amor”.