O ator Fábio Assunção escreveu uma carta aberta ao governador Wilson Witzel, nesta quarta (20/05), um dia depois da morte do adolescente João Pedro Matos Pinto, de 14 anos, durante uma operação no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, para prender o traficante Ricardo Severo, o Faustão, acusado de controlar o tráfico de drogas local. Witzel usou as redes sociais para lamentar e prometer investigação à família. “A operação da Polícia Federal, que teve o apoio da Polícia Civil, precisa ser apurada. Vamos investigar até que os culpados sejam responsabilizados. Meus sentimentos à família. Sou pai e entendo essa dor”. Ah, bem!
Foram encontradas 72 marcas de balas em paredes e até numa televisão na casa de João Pedro. Fábio começa o texto dizendo que conheceu o filho do governador, o trans Erick Witzel, chef de cozinha que atualmente trabalha na Coordenadoria da Diversidade Sexual da Prefeitura do Rio, e também comenta sobre as mortes causadas por complicações da Covid-19. No ano passado, o artista foi ao enterro da menina Ágatha Félix, de 8 anos, morta durante uma ação policial no Complexo do Alemão, atingida pelo PM Rodrigo José de Matos Soares, que responde por homicídio qualificado e, se condenado, vai cumprir de 12 a 30 anos de prisão.
A carta na íntegra:
“Venho pedir sua ação, respeitosamente a V.Exa. Sr. Governador Wilson Witzel. Firme em seus comandos. Conheci seu filho através da arte da gastronomia, um homem honrado. Imagino o orgulho que o senhor sente por ele. Como certamente já é de seu conhecimento, nas últimas 24 horas morreram mais de mil pessoas em função do COVID-19. Mas um menino de apenas 14 anos, deitado em sua casa, puro, foi assassinado por um fuzil, por um Policial Militar do Rio. A casa dele estava cheia de furos de balas nas paredes, o que nos faz concluir que a intenção era o extermínio aleatório de moradores do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo/RJ. Desde 1994, atingimos, este ano, o menor número de policiais mortos, quatro por mês. Antes disso, este número era de 36 por mês (nove estavam em serviço, menos de 5%). Isso se deve a seu empenho para com a segurança da população fluminense. Eu o parabenizo por isso, apesar da minha repulsa pelas armas. Mas não são apenas os seres perigosos à sociedade que estão morrendo e eles poderiam ter escolhido outros caminhos. Dito isso, há um contínuo despreparo, estarrecedora realidade e incapacidade da Polícia Militar de discernir o joio do trigo. E não me refiro àqueles que têm grande experiência, profissionalismo e compromissos com seus juramentos com a corporação e com o País. Os policiais são respeitados e protegidos pela instituição que comanda como trigo e os cidadãos de bem como joio? O joio, essa erva daninha, é plantada nos campos concorrentes (capital) para matar o trigo que é o segundo cereal mais produzido, precedido do arroz. Não desejo a morte de policiais honrados, mas lhe peço que não permita mais a morte de crianças negras ou de qualquer natureza étnica ou financeira nas favelas do Rio, pelo próprio Estado. Suplico e Protesto pela vida das crianças, adolescente e das mulheres do Rio. O joio não produz nada, apenas morte. Puna com firmeza todos aqueles que ousarem desobedecer à criação de nossa Mãe Divina. Todas as mães querem ver seus filhos realizados”.