Mesmo com a nuvem do coronavírus fazendo sombra na Europa, a Semana de Moda de Paris começou a toda, mas sem os habituais clientes e profissionais asiáticos, os principais que consomem moda, menos fotógrafos e um sotaque mais, digamos, latino nos encontros pré-desfile.
Christian Dior foi a primeira grande grife a desfilar, com o jardim das Tuileries lotado. A diretora criativa Maria Grazia Chiuri, feminista engajada, convidou o coletivo artístico feminista Claire Fontaine, que criou frases como “patriacardo=CO2” e “amor de mulher é trabalho não remunerado” para o cenário do lindo desfile, com uma fusão de influências dos anos 70 com peças essenciais do guarda-roupa masculino, transportando para a feminilidade e a afirmação em ser mulher.
No piso, havia uma versão da obra “Newsfloor” do coletivo, em que páginas de jornais foram pixeladas e reimpressas como um pedido para que a história fosse reescrita. Uma coleção que vai agradar, com certeza, à clientela Dior. Bravo!
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Outra marca superengajada foi a Chloé, da diretora criativa Natacha Ramsay-Levi, que deixou bem claro que a grife é uma mulher! Para ilustrar ainda mais sua posição, ela convidou três artistas femininas mundialmente conhecidas para participarem do evento, cada uma na sua área artística: Rita Acermann com sua pintura, Marion Verboom com as esculturas que faziam parte do cenário, e Marianne Faithfull para a poesia lida durante o desfile. A coleção feminina urbana levou peças que serão verdadeiro objeto de desejo. ____________________________________________________________________________________________________
Um desfile que causou foi o da Balenciaga, em que o diretor criativo Demma Gvasalia decidiu criar um cenário catastrófico, inundando uma parte da sala onde as cadeiras da primeira fila estavam todas submersas na água. Para amenizar, no teto, um telão passava imagens em 3D de tornados, como se anunciasse o fim do mundo. Depois de passado o susto do público, que entrou em uma sala completamente escura, o lado inusitado e conceitual do cenário começou a fazer efeito. No desfile, todos os códigos da marca estavam lá: o preto, as silhuetas com precisão geométrica, os volumes controlados, o glamour paradoxal e austero, além de um casting selvagem com uma diversidade de gênero e idade bem interessante. Bacana!
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O desfile da Valentino, mais uma vez, fez os convidados suspirarem com tanta beleza criativa. Quando achamos que a marca já mostrou tudo, vem um novo desfile mais surpreendente em termos de técnicas, estilo e, neste caso preciso, diversidade no casting. O estilista Pierpaolo Piccioli reinventou a silhueta da grife com proporções menos dramáticas. As clientes estavam histéricas com a beleza da coleção.
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O desfile Saint Laurent foi, como sempre, um deslumbre. Uma coleção de blazers coloridos com calças justas em vinil, que é uma das tendências mais fortes desta coleção. A marca levou uma verdadeira pista de dança para a passarela, com um clima de virada dos anos 1980 para os 1990.
No desfile, vestidos leves femininos, sexy e sedutores, como fazia o mestre Saint Laurent: deixar a mulher linda e sedutora, jamais vulgar, pelas mãos do estilista belga Anthony Vaccarello. Um detalhe: ele substituiu o couro por um material ainda mais fetichista, o látex, embalando as modelos a vácuo.
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A elegância sóbria, feminina e exclusiva invadiu a passarela do desfile da Givenchy com looks deslumbrantes em mulheres misteriosas! Clare Waight Keller, diretora criativa da marca, cria para mulheres poderosas, que não gostam de clichês, com referências ao cinema e ao criador da marca, Hubert de Givenchy, com silhuetas hipergráficas. A sensualidade não vem em decotes ou fendas, mas em ombros estruturados, cintura marcada e tricôs que abraçam o corpo.
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O desfile da Balmain, com seu exército de modelos famosas, foi um sucesso mais uma vez. Nos primeiros looks, rainhas do deserto seguidas de vestidos sedutores em cores sóbrias e volumes bem femininos. Lindo desfile!
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Um clima de androginia invadiu o desfile da Celine, do diretor criativo Hedi Slimane, com silhuetas modernas, sóbrias e femininas.
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O desfile do Dries Van Noten foi uma mistura de romantismo, modernidade e poesia. “É sobre a vida noturna. Sair, curtir a vida, se divertir”, explicava Van Noten nos bastidores. O trabalho do estilista nas misturas de cores e estampas é maravilhoso, uma coleção linda!
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Rei dos vestidos de festa e de princesas, o libanês Elie Saab desfilou uma coleção de prêt-à-porter luxuosa no Palais de Tokyo, com tecidos nobres em vestidos bordados e volumosos que só embelezam a mulher. Um dos looks, um impressionante vestido vermelho translúcido de gola alta, lembrava levemente o vestido vintage de Saab que Jane Fonda usou no Oscar deste ano.
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A clássica marca de luxo Hermès fez um desfile simples, chique e eficaz, com matéria-prima nobre, como o couro, cashmeres, e cores sóbrias misturadas às vibrantes e looks extremamente femininos pelas mãos da estilista Nadège Vanhee-Cybulski.
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Agora é a vez dos desfiles modernos, aquelas estilistas que não acompanham tendências e criam figurinos inusitados, envolventes e surpreendentes em termos de técnica e costura. E são sempre referência quando o tema é a liberdade de criação e talento.
O livro de memória de Debbie Harry (da banda Blondie, sucesso na década de 1990), “Face It”, foi publicado no fim do ano passado, exatamente na época em que Junya Watanabe começaria a trabalhar em sua nova coleção. “Ela era a única, quando jovem”, disse a estilista depois do desfile. A vocalista e o estilo pinup punk têm um significado especial para Watanabe, como ficou claro na pista. As modelos usavam perucas platinadas e batom vermelho borrado na boca, como se o microfone de Harry tivesse passado por ali, e os vestidos de brechó de Harry eram emendados e cortados em saias de tule em camadas sob saias de couro. Na trilha sonora, “Heart of Glass” e “Call Me”.
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“Restaurador!”, disse John Galliano sobre o seu desfile para a Margiela. Para o “Maison Margiela Artisanal”, ele criou experimentos de reciclagem que começou em janeiro e agora está canalizando para uma etiqueta oficial da casa, a “Recicla”.
Galliano fez um corte dos clássicos recuperando o guarda-roupa do século XX. A “Recicla” é praticamente uma réplica de roupas vintage que Martin Margiela fez para a casa, mas com um toque diferente, com novas formas, segundo Galliano, “em vez de copiar servilmente, é um sentimento de ser inventivo com uma consciência. É um retorno ao valor, a todas as coisas em que acreditamos”.
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Rick Owens, o irreverente. O estilista levou aquelas máquinas de fumaça para a passarela, num clima invernal, mas, segundo ele, de pura brincadeira — em vez do preto, a cor da temporada é o azul. “Eu me vejo equilibrando num mundo que pode ser meio restrito em sua estética. Tem que haver pessoas como eu, que têm outras sugestões”.
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Outra que sempre atrai olhares atentos é a Comme des Garçons. A coleção da estilista Rei Kawakubo estava cheia de peças esculturais e estranhas silhuetas; mal dava pra ver a modelo debaixo dos véus. Foi tão deliciosamente bizarro quanto os fãs de Kawakubo esperavam dela.
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A diretora criativa da Chanel, Virginie Viard, tem mostrado muito talento para uma mudança sutil de estilo na marca. Contudo, nesse desfile, ela mostrou claramente seu desejo de feminilizar e deixar mais jovem a marca de Madeimoisselle Gabrielle Chanel. A referência da estilista foi o filme “As corças” (1968), de Claude Chabrol, um dos mais importantes da Nouvelle Vague. Várias modelos entravam em par e trio, de braços dados, conversando, o que poderia ser traduzido como sororidade, a palavra do momento, sobre empatia e companheirismo, que pretende dar fim à rivalidade feminina. Outro detalhe: a modelo Jill Kortleve, que usa manequim tamanho 40, fazia parte do casting, uma nova realidade!
Ao contrário de seu predecessor, Karl Lagerfeld, que morreu no ano passado, Virginie preferiu uma decoração sóbria em preto e branco, com espelho no chão que refletia o teto de vidro do Grand Palais! Foi um desfile lindo, leve e solto, cheio de referências ao estilo da marca. Bravo!
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O desfile da Louis Vuitton, do estilista Nicolas Ghesquière, foi supermoderno, com misturas inusitadas, um clima de street wear superjovem e feminino. E para realçar a beleza do desfile, a produção foi assinada pela figurinista Milena Canonero, colaboradora do cineasta Stanley Kubrick, quatro vezes ganhadora do Oscar, que criou um cenário gigantesco com 115 cantores vestidos com roupas de épocas do século XV a 1950, um contraste absurdamente lindo, com personagens que representavam diferentes países, culturas e épocas.
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Entre um desfile e outro, fomos visitar o shoroom da Dior para ver de perto o reese da coleção desfilada, peças incríveis, looks modernos e os muito bem executados bordados e franjas. Do lado dos acessórios, uma profusão de bolsas, sapatos, botas, cada um mais lindo que o outro. A coleção chega ao Brasil em agosto, portanto preparem-se — está de cair o queixo!
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A apresentação da coleção da Schiaparelli no showroom da marca foi surpreendente. Volumes e formas inusitadas tomaram conta da coleção nos vestidos longos, o uso de botões tipo bijoux nas peças e o couro impecável; enfim, uma coleção linda e muito chique. Os acessórios são um capítulo à parte: modernos com clima psicodélico, meio Salvador Dalí, e os brincos de olho são bacanérrimos.
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