![](https://lulacerda.ig.com.br/wp-content/uploads/2020/03/000-1pz9c0-1-.jpg)
Em vários lugares deste planeta tão maltratado pela espécie dominante, até o momento, várias espécies animais revisitam espaços até então dominados pelos humanos com suas ruidosas e volumosas atividades.
Nos canais de Veneza, são flagradas espécies de aves raramente encontradas ou mesmo mamíferos marinhos praticamente desaparecidos. Suas águas, geralmente turvas pelo permanente movimento de embarcações de todos os tipos, apresentam-se cristalinas.
Sem dúvida, com a ausência humana em ruas, avenidas, canais, cidades e vilas, o principal inimigo das demais espécies é neutralizado — sabe-se lá, por quanto tempo.
Lá do alto, bem do alto, em imagens de satélite, percebe-se a temida desaceleração das indústrias, da economia do jeito que a conhecemos, e uma sensível melhora nos padrões de poluição. O Planeta parece estar suspirando diante desta tragédia de saúde pública, sem precedentes desde a gripe espanhola.
Já se percebe — e não é de hoje — que, da forma como lidamos com os processos naturais, principalmente os climáticos e suas consequências na biodiversidade global, mais dia, menos dia, iríamos bater de frente com algum inimigo comum que nos levaria a pensar sobre nosso papel nesse lugar.
![](https://lulacerda.ig.com.br/wp-content/uploads/2020/03/cisnes-e-peixes-voltam-a-veneza-foto-6557056-pixabay.jpg)
O selecionado foi um minúsculo e poderoso inimigo que, provavelmente, ainda ninguém sabe com certeza, vivia em outras espécies, até que o variado cardápio chinês apresentou-o para os humanos. De lá para cá, acompanhamos o conjunto de erros de contenção, visto que nenhum avião é derrubado apenas por um único motivo ou falha, e milhares de mortos e tantos outros milhares de adoentados e moribundos vão se acumulando dia após dia, sem data de acordarmos de fato desse pesadelo.
Reitero que não foi por falta de avisos, nem de especialistas, sobre o avanço indiscriminado das frentes humanas dentro do que sobrou de ecossistemas ainda em termos virgens, aos cardápios pouco ortodoxos quanto ao consumo de carne de caça de todo tipo, tampouco aos inúmeros filmes de qualidade variada sobre o contexto de pandemias, epidemias e coisas que a valham.
![](https://lulacerda.ig.com.br/wp-content/uploads/2020/03/venicelimpa.jpeg)
Fato é que lidamos com um inimigo típico produto da ação da natureza, que desconhece o politicamente correto. Se estiverem no lugar errado, na hora errada e não preparados suficientemente, pobres, ricos, novos ou velhos vão dançar. É a velha e temida seleção natural agindo, como sempre agiu, desde 3.5 bilhões de anos atrás. Independentemente do em que você acredite, ela está, a todo o momento, à nossa volta, trabalhando.
Resta saber — até o momento em que descobrirem as armas eficientes para debelar o atual inimigo, se ele irá catalisar ou desagregar de vez a espécie dominante.
Nesse domingo (22/03) foi o Dia Internacional da Água, em plena crise do coronavírus, resta-nos saber se o medo nos conduzirá, impreterivelmente, para o lado sombrio da Força, desagregando o que já vinha se despedaçando aos poucos, ou se iremos enfrentar nossos medos e com cooperação internacional, regional e local, por meio da cooperação entre inimigos diante de um inimigo comum, conseguiremos repensar tudo que nos conduziu ao momento em que estamos.
Não é filme, não é suposição — é realidade, e precisamos lidar com ela e, após ela, principalmente em lugares como o Rio de Janeiro, cidade que recebeu dezenas de bilhões de reais para megaeventos para a felicidade dos mesmos de sempre e que, até hoje, não resolveu suas chagas sociais e ambientais históricas. Agora, neste momento, gigantescas comunidades carentes não possuem água nem mesmo para lavar as mãos!
Nesse Dia da Água no Planeta, que deveria ter por nome Água, e não Terra, o breve futuro dirá se aprendemos alguma coisa com esta tragédia anunciada.
Destaco que nada é tão ruim que não possa ser piorado e, se não nos centrarmos de uma vez por todas, há muitos inimigos espalhados por aí, apenas aguardando o momento para o ataque final.
Não é ficção, é realidade!