Especialistas, técnicos, engenheiros, pesquisadores e outros já disseram tudo sobre a qualidade da água no Rio. O biólogo Mario Moscatelli, colaborador e consultor da coluna, é um dos que mais acompanham o ecossistema carioca e sempre nos deixa informados e preocupados. Nesta terça (04/02), depois das últimas notícias sobre o abastecimento interrompido devido a detergente no Guandu, o desânimo é total.
“Fracasso é o nosso nome quando o assunto é gestão ambiental. Independentemente de termos quem entenda ou não entenda à frente dos órgãos ambientais, simplesmente o que tem mandado no tema são a ingerência política e os interesses econômicos corporativistas de quem se deu bem com a bacanal ambiental”, diz ele, que denuncia o descaso com os rios Guandu, Queimados e Poços desde 1999.
“Tem lei para tudo, tem órgão para tudo, mas, na hora de fazer valerem as belas letras das leis, tudo fica no mundo um futuro que nunca chega e, quando chega, vem carregado de degradação, impunidade e omissões. Afinal, o que justificaria o atual quadro a não ser uma omissão sistêmica do poder público em todas as suas esferas, associada à resiliência patológica da sociedade? A receita perfeita para a fábrica de tragédias em série que nossa região se especializou em ser. Somos fracassados, e eu assumo e peço desculpas às próximas gerações. Denunciei e não adiantou nada, passaram-se 21 anos e aí está o monstro que criamos. Autoridades me chamaram de catastrofista, ‘colegas’ de artista, enfim, tudo no sentido de diminuir a gravidade da situação e desmoralizar quem a denunciava. Isso já deixou de ser uma missão para se tornar um verdadeiro karma”.
Atualmente, os 500 maiores rios do Planeta enfrentam problemas com a poluição, segundo dados da Comissão Mundial de Águas. Tem solução? Diversas cidades conseguiram transformar rios decadentes em belos cartões-postais, como Paris (Sena) e Londres (Tâmisa). O famoso Tejo, em Portugal, por exemplo, ganhou investimento de 800 milhões de euros (aproximadamente R$ 3,7 bilhões), em revitalização que terminou 2012, com obras de saneamento e renovação da rede de distribuição de águas e esgotos. “Ou seja, é possível despoluir rios urbanos; resta saber quem está interessado!”, finaliza Mario.
Enquanto isso, o governador Wilson Witzel esteve, nesta terça (04/02), no lançamento do programa Segurança Presente em Jacarepaguá e, apesar de ter ficado por mais de 20 minutos no palco, não mencionou a crise do abastecimento de água, apenas agradeceu aos vereadores e deputados e até puxou um Pai-Nosso ao lado de um padre local. O único pronunciamento de Witzel sobre a água foi pelo Twitter.