No Budismo e no Yoga, existe um termo em comum muito importante: Dharma. Dharma não é tão simples de traduzir e explicar. Podemos dizer que fala da nossa essência, da nossa natureza, da natureza das coisas. O fogo queima; sem calor, não é fogo. A natureza do fogo é queimar, aquecer.
Esse termo é também interpretado como missão. Qual o seu Dharma? Qual a sua missão nessa existência? Qual o seu propósito? O professor ensina, o aluno aprende. O médico cura; os pais cuidam dos seus filhos. Os governadores cuidam do seu povo.
Na vida, podemos viver na superfície das coisas: das relações, do nosso trabalho, da arte que escolhemos seguir. Podemos também nos desviar dos nossos propósitos — aí vivemos e nos sentimos vazios. É como se encher de algo que não alimenta. Algo que engana nossa fome, mas não chega a saciar nosso corpo.
Tudo tem um núcleo, um centro; podemos estar afastados do nosso centro. Aí nos sentimos inseguros, sem chão, apoiados nos outros. Tudo é instável e ameaçador, mas podemos acessar esse centro e encontrar paz, algo consistente e estável.
Acessar o coração das coisas — para isso, temos que ter vontade e foco. Não queremos a casca, o rótulo: queremos o néctar, a essência. O mundo acelerado onde não paramos mais, onde estamos sempre cheios de coisas para fazer. Precisamos pagar as contas. Precisamos ganhar dinheiro. Precisamos estar em evidência, ter sucesso. Estamos sempre cheios, sem espaço para reflexão nem contemplação. Acabamos perdendo a essência das coisas, nossa motivação inicial. Perdemos a própria essência da vida, que é cheia de momentos simples e cheios de alma. Não vivemos nós mesmos nem as pessoas que amamos.
Feche os olhos por um instante e faça uma inspiração suave. Solte o ar bem devagar, numa expiração longa. Sinta seu corpo relaxado e, nessa respiração, você vivo; a vida entrando pelas narinas e se espalhando pelo seu corpo. Faça isso por alguns instantes e sinta o poder de parar, de silenciar e contemplar coisas simples.
Amar. Amar o que você faz. Amar sua vida e quem está em torno de você. Amar sua missão. Amar sua arte. Mas amar exige empenho. Amar exige doação. Amar exige um desejo forte e inquebrantável de viver na essência das coisas, pois somos alma, e alma se alimenta de alma.