O cartaz da exposição “The Land of no Evil” (“A Terra sem Mal”) chamou a atenção em Londres, no fim de semana. Nele, a imagem com o pé de uma sandália Havaianas — aquela com a bandeira do Brasil em uma das tiras — retalhada e colada aos pedaços. A obra, batizada “Disenfranchised” (“Desprivilegiado”) e assinada pela artista anglo-brasileira Sarah Carvalho, foi um dos destaques na Offshoot Gallery. “A sandália lembra a associação que faço do Brasil e o seu status de ícone nacional, e o seu significado hoje numa sociedade globalizada. Sendo meio brasileira, meio inglesa, o trabalho me representa na hora de ter a consciência de não ser totalmente do Brasil e o que isso significa para a minha identidade cultural”, reflete Sarah.
Em cartaz até ontem, a mostra coletiva reuniu trabalhos assinados por novos e jovens artistas brasileiros e suas respectivas visões em meio a utopia e a distopia do Brasil de hoje. “Queríamos juntar artistas que se identificassem com essa possibilidade de uma terra sem maldade, mas que ironicamente se torna cada vez mais distante em nosso país”, destaca a paraense e artista plástica Paula Turmina, radicada há seis anos na capital inglesa, e também curadora da mostra, ao lado da carioca Stefanie Ferraz.
O título da exposição, ainda sem planos de vir ao Brasil, é inspirada na mitologia guarani, evocando uma terra sem fome, guerras ou doenças. “Como símbolo de resistência, o mito desafia a atual ordem política e social. Considerando as raízes multiculturais do Brasil, os artistas consideram a fantasia e os aspectos sensuais de um mundo em que novas profecias apocalípticas estão atualmente em tensão”, analisa Paula.
Outra que mereceu olhares contemplativos foi “Victoria Amazônica”, da artista carioca Sabrina Collares, inspirada na lenda da Vitória Régia, a estrela das águas. No lugar da índia que vê a imagem da lua refletida na água e se joga para nunca mais ser vista, surge a foto de Dilma Rousseff, numa referência ao “Nascimento de Vênus”, de Botticelli, aqui cercada por 16 flores que representam os anos que o PT deveria permanecer no poder se não fosse o processo de impeachment. “A foto retrata o exato momento em que Dilma chegou à Esplanada dos Ministérios para a cerimônia presidencial. A faixa foi adicionada e mantém-se como a coragem de Dilma em permanecer usando-a até o final do seu mandato”, comenta a artista.