Esta semana, postei, no Instagram: “Pray, but Act for Amazon”, instigando, de alguma forma, algumas campanhas pedindo que rezássemos pela Amazônia. Claro que a entendi e até a repostei. Daí, porém, fiquei pensando em todas as ações que já havíamos, eu, o Instituto-E e a Osklen, realizado nessas últimas décadas, em prol da Amazônia, junto a outras instituições e indivíduos. Sim, há muitos biólogos, sociólogos, pesquisadores, professores, empresários que ralam há anos com seus propósitos, a fim de melhorar a qualidade de vida da população da floresta, emponderando-os a fim de que criem valor para si e para sociedade através de projetos de desenvolvimento sustentável socioambiental e cultural, pois floresta em pé é floresta explorada sustentavelmente, com conceitos econômicos e práticas do século XXI! Estou cansado de discursos de ideologias antiquadas de “Direita X Esquerda”, de “Verdes X Empresariado” e assim por diante. Há alguns documentos tão importantes e significativos para a civilização, escritos e publicados ainda na década de 90 – alguns, poucos anos após o nosso mais importante evento na virada do milênio, a meu ver, a Rio92; outro, quando o Maurice Strong (1929-2015), secretário-geral, apresentou os conceitos do que hoje entendemos como Desenvolvimento Sustentável. Por sinal, tive a grande oportunidade de homenageá-lo com o Prêmio-E (Unesco, Rede Globo e Instituto-E) durante a Rio+20 e, então, nos tornarmos grandes amigos. Ele me “adotou” e foi até quatro anos atrás, quando morreu, um grande tutor no aperfeiçoamento do meu pensamento sobre o Desenvolvimento Sustentável: os conceitos ASAP (As Sustainable As Possible – As Soon As Possible) e o do “Novo Luxo”.
De próprio punho, por Oskar Metsavaht – Amazônia: “Estou cansado de ideologias antiquadas de Direita X Esquerda, de Verdes X Empresariado”
Mas voltando aos documentos, a Agenda 21, um rico guia para a sociedade deste planeta, eu diria que é tão importante quanto a Declaração dos Direitos Humanos. Nessa agenda, escrita por vários pensadores nas mais variadas áreas do conhecimento humano, há uma direção, não ideológica, ou ao menos eu diria, sem dogmas, para um desenvolvimento humano e econômico. Há a Carta da Terra, escrita por pensadores, como a Pinon, Rockfeller e Leonardo Boff, dentre outros. Também, o genial pensamento e conceito do Protocolo de Kyoto, que nos fez perceber que a preservação ambiental não era somente uma ideologia utópica, mas que nos permitiu entender que ela pode existir, sim, aliada ao desenvolvimento econômico. Sim, podemos usar economicamente os recursos naturais para realizar lucro e melhora de qualidade de vida da sociedade, se mantivermos ou melhorarmos esses recursos para as próximas gerações.
Quando compreendi isso tudo, lá em 1998, consegui ver que o amor e respeito pela natureza, pela preservação das florestas e dos oceanos, que eu havia tido como educação e cultura dentro de casa, não era um desejo romântico e então utópico num mundo capitalista “devorador da natureza”. Minha família paterna, cujo sobrenome Metsavaht significa, em estoniano e em finlandês, “guardião da floresta”, e, sim, meus avós e meu pai sempre nos educaram assim. Meus avós vieram da Estônia nos anos 20, e meu avô Oskar era muito amigo do Lutzemberger, no Rio Grande do Sul, reconhecido como um dos primeiros ecologistas do Brasil, quando ainda nem existia essa palavra. Íamos, com meu avós, à sua casa para ver as coleções de répteis, as plantas etc. Nosso pai sempre nos levou para acampar, surfar, pescar, plantar … em um respeito ao equilíbrio ecológico. Na Estônia, meu sobrenome é praticamente um símbolo nacional, pois é considerado o país europeu com mais florestas milenares preservadas proporcionalmente, graças aos Metsavaht. Para ter uma ideia, a Lituânia, um país vizinho, por causa da exploração madeireira, tem pouquíssimas florestas. E essa formação, junto à nossa mãe de origem italiana, ligada a arte, ela professora de História e Filosofia (meus pais são acadêmicos – minha mãe fundou a faculdade de Filosofia e História da Arte e meu pai, a de Medicina, em Caxias do Sul, nos anos 60), proporcionou a mim e aos meus irmãos uma educação bastante próxima ao ambiental e social com arte e ciência. Meus pais eram legítimos humanistas.
Sobre o que estamos vivenciando hoje, os incêndios na floresta Amazônica, estive no meio dela há um mês, em uma tribo remota da etnia Kayapo. Já é a sexta vez que vou à Amazônia, realizando projetos como artista, como designer e ambientalista. Não sou um grande conhecedor da Amazônia e de sua cultura, mas o pouco que conheci foi profundo e sempre com essa sensibilidade para perceber o humano e o ambiental – e sua riqueza que a biodiversidade nos dá. O Brasil geopolítico está dentro de uma das áreas mais importantes do Planeta. Somos e devemos ser os guardiões dessa floresta, tanto altruisticamente quanto pela possibilidade de um desenvolvimento econômico contemporâneo, obviamente sustentável social, cultural e ambiental, que leve nossos produtos e serviços ao mundo todo como algo que realmente expresse o que mais temos de valioso para a sociedade planetária: vida! Temos um jois-de-vivre único, somos felizes, sexy, saudáveis e simples. E temos terras férteis ainda não contaminadas e uma biodiversidade e conhecimentos indígenas e populares que sabem como extrair riquezas mais que contemporâneas e desejáveis no mundo. O Brasil tem todos os elementos para ser um dos líderes da nova economia do século XXI, a economia verde. Temos um povo criativo, temos mão de obra sedenta para trabalhar e poder melhorar de qualidade de vida e nossos recursos naturais únicos.
O que está acontecendo no País é uma visão de que, se explorarmos a Amazônia e outras regiões nossas com uma visão de curto prazo, com a exploração da madeira, de mineiros e de agronegócio de extensão vai perder espaço nesta competição econômica que o mundo está tendo. Podemos ser ricos, saudáveis e decentes com nós mesmos e com a natureza. Sim, ainda dá tempo de não deixarmos que aquela fumaça cinza-verde-oliva, que pairava no ar nos anos 60 e encobria nossas ideias e ações, venha a nos estagnar novamente! Mas não com manifestações nas ruas e posts revolucionários nas mídias, e, sim, com um projeto de desenvolvimento econômico sustentável social, ambiental e cultural que leve o Brasil ao século XXI na liderança de economia verde. Um projeto de Nação, de Estado, sob qualquer que seja o Governo vigente. Desde que respeite a liberdade individual e de pensamento, e a propriedade de terras (indígena, quilombolas e privadas), de cultura (credos, raças, sexo) e intelectual (artística, filosófica e científica). Para conhecerem o que realizamos em prol deste meu “manifesto”, sugiro conhecerem meus projetos junto ao Instituto-E, à Osklen e as minhas obras e exposições de arte.
Oskar Metsavaht nasceu no Sul, mas é carioca. É médico, fotógrafo, artista plástico, fundador da Osklen, marca de sucesso com lojas no Brasil e em outros cinco países, além de empresário sustentável, um dos criadores do chamado Novo Luxo, com prêmios nesta área. Esse Embaixador da Boa Vontade da Unesco, vitorioso por si, tem espírito urbano, mas com os dois pés na Natureza.
Fotos: Marcelo Lince, feitas há um mês na Amazônia