Maria Elisa Coelho e Gustavo Annecchini, que foram casados por 10 anos e são fundadores da agência carioca Oroboro Enterteinmet, resolveram se unir na literatura: acabam de lançar o romance “Bluebell”, mas bem longe do Brasil: em Dubai, nos Emirados Árabes. Ganharam, inclusive, o prêmio “Best Newcomers Writers” (“melhores novos escritores”), no World Fashion Festival Dubai, evento que aconteceu no hotel Sofitel The Palm, no último fim de semana.
A dupla juntou histórias dos 10 anos de convívio e das viagens em mais de 25 países em busca de culturas e fatos inspiradores para escrever um romance sobre a jovem italiana Chiara di Bernardi, que embarca numa viagem não só física como também repleta de símbolos, propósito, aventura e magia — uma inspiração que veio da infância, principalmente do tio, o “mago” Paulo Coelho. A capa do livro é uma ilustração da flor Bluebell, desenhada pelo artista plástico equatoriano Miguel Velez, e a orelha coube à jornalista Leilane Neubarth.
O livro também foi traduzido para o inglês — está nas principais plataformas digitais e já recebeu convites para ser lançado na Romênia, Estados Unidos e Argélia, além, é claro, no Rio e São Paulo.
Por que lançaram o livro, primeiro, em Dubai?
Notei que o mercado editorial estava passando por uma crise forte, e várias editoras e livrarias fecharam, o que é lamentável. No Brasil, seria apenas um lançamento, mas a oportunidade surgiu de maneira inusitada. Sou de esperar sinais da vida, e a própria agência aconteceu assim, com sinais místicos e espirituais. Há um ano, fomos a Dubai para fazer pesquisas e entender como seria a história. Ficamos apaixonados e postamos tudo nas redes sociais. O convite para lançar o livro no festival veio do Instagram, por uma romena, uma convergência, para não usar a palavra destino, porque também nos apaixonamos perdidamente pela Romênia; um dos protagonistas é romeno.
Como é escrever um livro a quatro mãos com o ex-marido? Aliás, trabalhar junto há muitos anos, né? Dá pra desvincular e virar amigo?
É um ponto divertido porque sempre criamos muitas metodologias de trabalho juntos. Funciona da mesma forma com a literatura — nós combinamos de escrever profissionalmente, como dupla, porque já temos uma dinâmica conhecida no mercado de personalidades. Até hoje, temos conseguido desvincular o fato do casamento. Você precisa ter maturidade emocional e lucidez, porque ele significou 10 anos da minha vida e vice-versa… E não existe segredo. Somos uma dupla, um casal criativo, que tem uma agência, um périplo na literatura, e que também teve um relacionamento de 10 anos de muito sucesso. Nós temos oito funcionários na nossa agência; geramos receitas para famílias, para o mercado artístico de celebridades, através das conexões que temos com as mais de 100 empresas que atendemos. Enfim, por que não criar nossa própria receita, também, como relacionamento? Seria um pouco tribal, tosco, se terminássemos também a sociedade.
Qual o principal foco do livro?
As três virtudes: amor eterno, humildade e gratidão. Nos perguntaram se praticávamos essas virtudes, e nós, como seres humanos, tentamos sempre dar o nosso melhor – é um exercício diário. É um processo interno, uma jornada de vida. O segredo é desvincular a relação pessoal com a profissional.
Vocês mesmos bancaram o livro?
Fizemos todo o processo construtivo, somos autores independentes. Nós temos uma editora, aqui, no Rio, que nos dá um suporte, mas praticamente criamos sozinhos: capa, diagramação, ilustrações, escolha de fontes, revisão e tradução para o inglês. E uma fã, a Monique, pagou as passagens aéreas e a nossa hospedagem em Dubai.
E ser sobrinha de Paulo Coelho a incentivou?
Sempre tive meus diários e lia muita coisa, por incentivo da minha mãe, desde pequena. Adorava enciclopédias, livros sobre música etc., mas, claro, existe uma inspiração porque meu tio realmente acreditou nos sonhos e conseguiu atingir o caminho que ele escolheu, tanto que os livros dele falam sobre chegar a algum lugar, esse caminho de acreditar que as pessoas vão dar certo. O caminho é difícil, mas tanto eu como ele temos uma alma empreendedora. Nas orações a São José, que ele sempre fez quando morava no Brasil, era eu quem as lia, só parei quando ele se mudou de país. Sempre tive uma relação muito próxima; li “O Alquimista”, “Diário de um Mago” e “Brida” foi muito inspirador, espiritual.
Mas existe um peso ser sobrinha de Paulo Coelho sendo também escritora?
Não, porque sempre fui muito criativa, tive minhas ideias. Sou uma caixa de Pandora. E não queremos, de jeito nenhum, que a nossa literatura seja associada ao Paulo Coelho, e não queremos parecer apadrinhados, e nem somos. E ele também não quer. Mas críticas são importantes, costumamos dizer “ame os críticos”, e, como artistas, não vamos deixar de expressar as coisas pensando nos outros.