Isadora Ribeiro, considerada uma das mulheres mais sensuais dos anos 1990, deixou na cabeça dos brasileiros a abertura do Fantástico, em que ela saía da água, coberta apenas por faixas coloridas – ideia do Hans Donner à época. Esta semana, a atriz estreou a peça “Diário de Bordo” no Teatro Vanucci, na Gávea, com mais duas apresentações: nos dias 23 e 30 deste mês. O espetáculo comemora seus 30 anos de carreira – ela interpreta três personagens tirados de textos premiados de Maria Sampaio, sua filha mais velha.
A peça surgiu também como uma espécie de catarse porque, nos últimos cinco anos, Isadora passou por sucessivas perdas – a morte do pai, depois da mãe e, há um ano e meio, a do irmão num acidente de moto. Dona de traços fortes e corpo escultural, ela começou a carreira como modelo e fez capas de revista, desfiles e muitas propagandas até chegar à Rede Globo e completar o currículo com 17 novelas, entre elas, “Mulheres de Areia” (1993), “Explode Coração” (1995) e “Celebridade” (2003). Ela conta que foi difícil entrar no mercado da panelinha artística sendo modelo. “Sofri bullyng das coleguinhas”, admite. Aos 53, com duas filhas, Maria, de 21 anos (do casamento com Walter Sampaio), e Valentine Ribeiro (com o marchand Marco Aurélio), de 12, ela não pensa em relacionamentos e está solteira há três anos.
É Fantástico?
Fantástico seria ver o Brasil sendo dirigido por políticos honestos e que praticassem a democracia no sentido amplo, geral e irrestrito da palavra, com educação, saúde, segurança e trabalhou para as pessoas, com dignidade na vida. Quero que minhas filhas cresçam, se formem e tenham suas famílias e 44 RR sejam muito felizes. vou considerar como cumprido meu papel de mãe.
O que permanece nessa Isadora?
Depois de 30 anos, continuo uma pessoa boa, que acredita em Deus, na família, nos amigos, que é sincera, não trai seus sentimentos. E também menos ingênua. Se antes eu ficava triste quando as pessoas me magoavam, agora eu abstraio. Com o tempo eu adquiri mais autoconhecimento e com isso, busco a sabedoria.
Como surgiu a ideia de comemorar os 30 anos de carreira com uma peça?
Surgiu numa conversa com um amigo, que comentou com o Guilherme Oliveira, produtor e ator, que me convidou para entrar em cartaz no Vanucci e seguir com a peça em outros teatros. A peça é um texto da minha filha, Maria, escrito quando ela tinha 16 ano e foi premiado. Peguei três e produzi com a direção de Roberto Inocente. Me preparei longamente para interpretar os três papeis.
Nos últimos cinco anos, várias coisas aconteceram na sua vida, incluindo a perda do seu pai, mãe e irmão. Muita gente não suportaria… Como aconteceu essa, digamos, superação?
Foi muito difícil perder minha família nessa avalanche de mortes. Sempre achamos que isso nunca vai acontecer conosco. Mas também acho que Deus não dá cargas para quem não pode suportar. Sempre fui uma pessoa espiritualizada e acredito plenamente que Deus é meu criador, protetor e mantenedor. E Ele me deu forças. Perdi meu pai, depois minha mãe ficou tristinha, teve meningite e morreu, e meu irmão num acidente de moto. Mas a minha sabedoria, minha fé em Deus e o amor às minhas filhas e irmãs ajudaram muito. E o trabalho também, porque comecei a produzir a peça nessa época e quando estava compondo os personagens conseguia esquecer as tragédias pessoais. Por isso ela significa muito pra mim, como uma das personagens, eu sou uma sobrevivente. Não estou falando isso pra você por pena não… Odeio sentimento de autocomiseração e não gosto que sintam pena de mim, sou uma guerreira, sou forte e é isso.
Você foi símbolo sexual nos anos 90. Existiu na sua carreira de atriz algum tipo de preconceito/bullying por ter surgido como modelo?
Eu era símbolo sensual. Comecei a carreira como modelo e na agência me escolheram para abertura do Fantástico, mas eu já trabalhava há muito tempo. Topei porque se não fosse eu, seria outra. E claro, sofri bullying de coleguinhas preconceituosos. A beleza sempre ajuda, mas na profissão de atriz ela me atrapalhou bastante. Quando você é bonita tem que provar mil vezes mais o seu talento; a feiosa faz e todo mundo observa, a bonita tem que ser perfeita. Tive a sorte porque todos os meus personagens fizeram sucesso. Agradeço à TV Globo por ter me dado oportunidade de fazer sucessos, mas acho que não devo nada a eles, se me deram algo eu também dei muita audiência, então estamos quites. Mas também tive as divas que me trataram bem em cena, como a Fernanda Montenegro, a Jaqueline Laurence, a Rosamaria Murtinho. Prefiro destacar as que foram bacanas, generosas, do que as que me maltrataram em cena.
Existem muitas mulheres que estão decepcionadas com os homens em geral… Já pensou em experimentar um relacionamento gay?
Relacionamento gay? (risos) Está descartada essa possibilidade. Tenho muitos amigos gays, homens e mulheres que amo e são amigos de verdade. Sou 100% hetero.
Você é curitibana, mas escolheu o Rio para viver. O que acha do governo da cidade, como é o seu Rio (o que gosta de fazer aqui, como o enxerga etc) e se você acredita num futuro melhor?
Amo o Rio de todo o coração e também tenho expectativa, por ser fiel a Deus, que aconteça um milagre. Que a experiência do Eduardo Paes faça com que tenhamos um Rio melhor ou a inexperiência do Wilson Witzel faça dele um governador justo. Adoro siar, ir aos parques, andar pela rua… Mas não faço mais porque tenho medo e meu prédio é um condomínio-clube. Tenho medo e espero mudanças. Acredito num futuro melhor e sou uma pessoa de pensamentos felizes. Detesto pessimismo e embalada assim, acredito que o Brasil e Rio vão ter um futuro melhor.