Há 15 dias, começou a construção de uma casa de 750 metros quadrados na Rua das Acácias, na Gávea, o que está causando uma verdadeira comoção entre os vizinhos, pelo desmatamento de 37 árvores da área. Principalmente muita revolta dos moradores de um prédio de 10 apartamentos colado ao terreno, onde moram a atriz e apresentadora Cissa Guimarães e o pianista Toca de Lamare, dentre vários cariocas bacanas. No terreno, está um abacateiro de mais de 15m, uma mangueira e um bambuzal. O espaço é propriedade da família do empresário carioca Ricardo Salim há 60 anos e, agora, ele decidiu construir a casa, com projeto do arquiteto Indio da Costa, com todas as licenças em mãos, “tudo dentro da lei, do contrário, eu não faria”, diz ele.
No início do mês, 30 moradores se reuniram em frente ao terreno, para impedir a entrada das motosserras. Desde então, dezenas de vídeos estão ganhando as páginas das redes sociais contra a obra – Cissa divulgou um vídeo no dia 9 de outubro, com alguns vizinhos dando depoimentos sobre a extinção da fauna e flora dali, além do abaixo-assinado online (com 2.655 assinaturas) circulando na Internet, pedindo que o lote torne-se uma espécie de horta ou pomar urbano e que o meio ambiente seja preservado. “A Internet dá voz a todos como se estivéssemos fazendo algo errado. Isso é um absurdo e estão incitando o ódio contra mim”, diz Salim. Nesta quarta-feira (17/10), agentes do Comando de Polícia Ambiental do Rio estiveram no local depois de denúncias, e Salim teve que ir à Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), para prestar esclarecimentos – ele mostrou todos os documentos necessários e foi liberado; a obra continuou normalmente.
A coluna conversou com Salim:
O que você tem a dizer desse caso?
Só comprei o terreno sabendo que estava tudo certo. Tenho todas as certidões do escritório do Indio da Costa, todas as licenças da Prefeitura e já fui fiscalizado pelas polícias Civil, Militar e Ambiental, tanto para o desmatamento como para a construção da casa. Minha família mora na Gávea há mais de 40 anos, e esse é um terreno próprio, numa área urbana, com shopping center do lado, bares, restaurantes… Acredito que os vizinhos não queiram a construção em si. Mas se você for ao Baixo Gávea, o que mais tem são prédios, casas; aliás, o IPTU numa área urbana sem construção é muito mais caro. As pessoas reclamam que querem ver passarinhos e verde da janela, mas ali onde elas moram já foi mata um dia, ou seja, essa pessoa – ou a construtora – já derrubou árvores. Não estou construindo numa reserva ambiental nem num lugar que não seja autorizado.
Existe algum programa de replantio para compensar?
Existe uma taxa a ser paga para a Prefeitura (cerca de R$ 100 mil), para replantar 362 mudas da Mata Atlântica no Rio, e eu já fiz isso.
Acredita que esse abaixo-assinado vá dar em algo?
Não tem validade porque estou dentro da lei. E você pode ver que eles inventam nomes, tem até Lula, Fernando Haddad, Bolsonaro assinando.
Qual o sentimento agora?
Estou revoltado. As pessoas berram porque não veem mais a mata da janela, mas isso é porque foi desmatado no passado. As pessoas brigam como se morassem numa Floresta Amazônica. Estou exposto com essa situação e, apesar da denúncia dos moradores – salvo alguns que já entenderam a situação -, o terreno está em ordem. Recebi hoje (17/10) uma declaração da Polícia Civil, do Governo do Estado com um laudo técnico dizendo que tudo está de acordo.
Vai manter quanto de árvores no lote?
A maior parte do terreno não será ocupada com construção. Inclusive contratamos o Escritório de Paisagismo Burle Marx e vai ficar do cacete.
Tem receio de ser hostilizado no bairro?
A obra fica pronta em um ano e meio se o pessoal deixar, porque bate gente lá a toda hora; mostramos os documentos e continuamos. A revolta cresceu depois que a Cissa (Guimarães) publicou um vídeo que incitou o ódio de várias pessoas, como se eu fosse um vilão e tivesse desmatando o bairro inteiro. Às vezes, bate gente lá que nem é do bairro. Moro há 40 anos na Gávea, amo meu bairro e acho que tenho o direito de morar mais 40, até morrer, né?