Dando continuidade ao “Especial Eleições 2018”, a entrevista deste domingo (30/09) é com a candidata Marcia Tiburi (PT). Já foram publicadas as entrevistas de Eduardo Paes, de Garotinho, Indio da Costa e Marcelo Trindade.
Por que se candidatar ao governo do Rio?
Decidi me candidatar porque não consigo ser indiferente ao sofrimento humano. E, em consequência do projeto de poder do Cabral e seus filhotes, dentre eles, Eduardo Paes e Índio da Costa, aumentou o sofrimento da população do estado do Rio. O desgoverno atual só interessa para determinados políticos e grupos econômicos que lucram muito com o caos social, o medo e o sofrimento alheio. O nosso objetivo é, portanto, romper com o marco de poder, cuidar das feridas do estado e devolver o Rio de Janeiro à população. Poderia, citando Marx, dizer que, até agora, os filósofos se preocuparam apenas em interpretar o mundo, mas o que importa é transformá-lo.
A fazer aliança com algum dos seus concorrentes, qual seria? Por quê?
Se for condição para melhorar a vida da população do Rio de Janeiro, não vejo problema em fazer alianças a partir de princípios programáticos e éticos. Mas, de todos os outros candidatos, os que com mais simpatizo são a professora Dayse Oliveira e o psolista Tarcisio Motta.
Das tantas tragédias atuais na vida dos cariocas, qual a que mais o comove?
O extermínio da população, que se dá tanto pela ausência de um plano sério de segurança pública quanto pelo descaso com a saúde pública.
Qual a ordem de prioridade pra você: educação, saúde e segurança?
Nosso plano de governo trata esses temas de maneira integrada. Todos são fundamentais, não há hierarquia entre eles, mas é inegável que uma educação de qualidade produz efeitos positivos diretamente sobre a saúde e a segurança.
Você colocaria um filho numa escola pública no Rio? Por quê?
Em uma escola pública adequada ao nosso projeto para a educação, matricularia minha filha sem a menor dúvida. Eu sou o resultado da educação pública e, por isso, sei que é possível uma educação de qualidade fornecida pelo estado. Confio no potencial da educação e tenho um projeto para resgatar o ensino público.
Quais as três primeiras providências se eleito?
Implementar os projetos “segunda chance” e “mais família”, que permitirão a melhora da qualidade de vida da população e o aquecimento da economia fluminense, e dar início ao resgate da educação pública, diante do quadro trágico da Faetec e da UERJ.
A filha do Eduardo Cunha é candidata, o filho do Sérgio Cabral é candidato, o filho do Jorge Picciani é candidato; todos presos – o que existe de tão atraente na política que não intimida esses jovens nem nessas circunstâncias?
É fundamental que jovens participem da política que, dentre outras coisas, permite superar conflitos e gerir a nossa casa comum. Não devemos demonizar a política, mas repelir, através do voto, a tentativa de alguns de fazer da política um instrumento de enriquecimento ou de satisfação de interesses pessoais.
O que pretende deixar de mais importante ao fim de seu governo?
O resgate da esperança de que um outro Rio de Janeiro é possível, no qual os direitos de todos sejam respeitados; os valores democráticos, resgatados, as relações humanas, desmercantilizadas. Enfim, que a população do Rio de Janeiro volte a ser feliz e ande orgulhosa pelo estado.
Que cidade citaria como exemplo? Por quê?
São Gonçalo. São Gonçalo nos permite conhecer e estudar como o descaso do estado produziu e ainda produz tanto sofrimento à população. É um exemplo concreto das consequências de um marco de poder viciado e sem compromisso com a população. Uma vez eleita, ao final de nosso governo, quero que você volte a perguntar sobre São Gonçalo, cidade que ocuparemos com cultura, educação de qualidade, saúde, esportes, segurança cidadã e investimentos que gerarão empregos e renda na localidade. Faremos de São Gonçalo uma cidade-modelo.
Qual o seu apreço ou desapreço com a prefeitura do Crivella?
Acho o governo do Crivella bastante equivocado, mas a verdade precisa ser dita: Crivella herdou uma dívida bilionária do Eduardo Paes, que é um dos principais responsáveis pelo caos atual da cidade.
E a vida cultural como anda? Qual a última peça, o último filme, o último livro?
Anda escondida nas brechas da agenda de uma candidata. A última peça a que assisti foi a ótima “Molière – Uma comédia musical”, com Matheus Nachtergaele e grande elenco. Recentemente, reli “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, que não visitava desde a adolescência, para me inspirar para lutar contra as injustiças. Não vou ao cinema faz algum tempo, mas o último filme a que assisti foi “O Processo”, documentário da Guta Ramos sobre a farsa e o ridículo do golpe contra a presidenta Dilma.
Sabemos que a União retém quase a totalidade dos impostos arrecadados no Estado do Rio, deixando o governador, digamos, de pires na mão. Qual seria sua proposta para evitar essa romaria a Brasília, cada vez que mais dinheiro é necessário?
As normas que regulam os tributos e a repartição das receitas tributárias são extremamente injustas com o estado do Rio de Janeiro, em especial diante dos termos da Lei Kandir, que precisa ser urgentemente rediscutida e alterada. Isso, para não falar do péssimo acordo celebrado pelo Pezão com o Temer, que dificulta a realização dos movimentos e investimentos necessários à recuperação da economia do estado. Também esse acordo precisa ser revisto. Diante desse quadro, precisamos discutir republicanamente com a União a situação especial do Rio de Janeiro, credora histórica da União, bem como cobrar essa dívida. Não tenho nenhum compromisso a não ser a defesa incondicional dos interesses da população do estado do Rio de Janeiro e, portanto, muita facilidade para, de forma ativa e altiva, lutar pelo estado, o que será extremamente facilitado se o próximo presidente for o professor Fernando Haddad, outra pessoa apaixonada pelo Rio.
numero:13 O que a senhora acha de políticos que mentem?
Sou uma professora de Filosofia e, desde cedo, tenho um compromisso com a verdade. Acho lamentável políticos que acreditam que a verdade perdeu valor. Em relação aos políticos que mentem, gostaria de desejar a eles um eleitor bem informado e não manipulado por grupos de interesse. Só há verdadeira participação popular na tomada de decisões se o eleitor estiver bem informado. Um eleitor bem informado, por exemplo, não votaria em um político traíra que deixou uma dívida de mais de 3 bilhões na prefeitura do Rio e fez obras caras e desastrosas, como o Eduardo Paes; nem em um ex-jogador cheio de dívidas e incapaz de gerir a própria vida privada, que é o caso do Romário; também não votaria em um defensor de fascista, que naturaliza a tese de que as mulheres devem ganhar menos do que os homens e defende o aumento do imposto de renda para os mais pobres, como o Índio; ou no Garotinho, que dispensa maiores comentários.