Todo mundo já sabe quem matou Odete Roitman (Beatriz Segall), mas a novela “Vale Tudo”, escrita há 30 anos por Gilberto Braga, Agnaldo Silva e Leonor Bassères, continua tão atual com o discurso sobre ética e honestidade, que volta com tudo – literalmente –, em uma nova reprise no Canal Viva, a partir desta segunda-feira (18/06). A hashtag “estreiaValeTudo30anos” foi uma das mais usadas no Twitter na tarde desta segunda, com muitos memes – detalhe que, em 1988, as redes sociais não existiam. Entre os personagens inesquecíveis, Raquel (Regina Duarte), Heleninha Roitman (Renata Sorrah), a ambiciosa Maria de Fátima (Glória Pires) e o mau-caráter César (Carlos Alberto Riccelli); já entre os coadjuvantes, Paulo Reis, amigo cafajeste de bom coração de César, que fez tanto sucesso que chegou a receber o prêmio de Ator Revelação pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) na época.
Aliás, o personagem ficaria apenas duas semanas na trama, mas ganhou espaço até o fim. O ator, atualmente, grava a minissérie “Mais leve que o Ar”, sobre o aviador Santos Dumont, do canal HBO; acaba de fazer uma participação especial no programa infantil “Detetives do Prédio Azul (DPA)”, do canal Gloob e aguarda a estreia de três filmes, ainda para 2018: “A Divisão”, de Vicente Amorim, “O Paciente”, de Sérgio Rezende, e “Macabro”, de Marcos Prado. Além disso, Paulo ensaia uma peça como ator e ainda toca sua produtora, como diretor.
Como vê esse sucesso depois de 30 anos?
Com um misto de orgulho, por ter participado de um trabalho tão marcante, e de tristeza, por ver que o Brasil mudou tão pouco nesse tempo todo… É muito bom ver a importância de um trabalho antigo, mas, ao mesmo tempo, é muito triste constatar que nosso país mudou tão pouco depois de tanto tempo. Estamos vivendo um momento muito difícil, de verdadeira purgação nacional, mas acredito que isso é uma fase necessária, e que dias melhores virão. Eu sou otimista.
Acredita que o público de “Vale Tudo” vai crescer nesta nova reprise?
Muita gente jovem me parava na rua para falar sobre a novela, quando reprisou pela primeira vez no Viva, e acho que também vai fazer muito sucesso agora, aposto. Até porque a TV a cabo aumentou muito a audiência nesses últimos anos. Teremos muito mais público, tenho certeza.
O que a novela mudou na sua vida?
A novela me apresentou como ator para o grande público brasileiro, e isso muda a vida de qualquer um. Foi inesquecível e sinto os efeitos até hoje. Ganhei o prêmio de Ator Revelação da APCA, pelo qual eu agradeço a todos os meus colegas de elenco e ao Dennis Carvalho (diretor da novela). Eu já tinha feito televisão, tanto como ator como diretor, mas ‘Vale Tudo’ foi uma novela diferente, tudo ali era superlativo e inesperado. Até hoje, sou muito grato ao Gilberto Braga, um autor extremamente generoso, por ter dado impulso ao meu personagem, e essa grande chance. Depois dessa novela e do prêmio, trabalhei 10 anos quase que ininterruptamente.
Qual era seu personagem preferido ?
Eram dois: César Ribeiro e Maria de Fátima porque a ambição deles fazia a trama andar, com reflexos em todos os outros personagens, principalmente Olavo.
Conte alguma curiosidade de bastidor daquela época.
Era tanta comoção que várias vezes precisamos ser escoltados por seguranças para ir embora das externas. Eram multidões em volta da gente, fãs e repórteres. Tem uma curiosidade legal. O clima de gravações era incrível, tanto que teve uma época em que o camarim masculino se tornou uma espécie de cassino: entre uma cena e outra, a gente jogava sete e meio em pé, com dinheiro vivo, ao redor de uma mesa (risos)! E no último dia de gravação, uma sexta-feira, quando ia ao ar o último capítulo, o estúdio estava totalmente cercado por fãs e repórteres, e o elenco, munido de roteiros falsos para despistar todo mundo, inclusive a nós mesmos.
Já esbarrou com algum Olavo por aí?
A injustiça reinante no País propicia o surgimento de inúmeros sujeitos levados a tentar sobreviver sem ética alguma, e já esbarrei com vários por aí, sim. Infelizmente, a questão que a novela levanta – sobre valer a pena ser honesto em um país onde todos são desonestos – continua viva.
Se tivesse que mandar um recado para o Gilberto Braga, nos dias de hoje, qual seria?
Obrigado por tudo, querido, mas não deixe de escrever ‘Vale Nada’, uma continuação da nossa novela nos dias de hoje, 30 anos depois…