Há 14 anos, Cabbet Araújo comanda uma das casas noturnas mais duráveis da cena carioca, a Fosfobox, em Copacabana, além do Ganjah Coffeeshop – segundo ele, “um espaço-conceito que combina elementos do universo da maconha com arte urbana, música, grafites, moda e laricas” -, na Lapa, inaugurado em 2016, onde funcionava o clube La Paz. No entanto, bem antes disso, lá em 1998, Cabbet foi chamado para comandar a Bunker 94 (onde hoje funciona a Le Boy), também em Copa. “Um grupo italiano injetava grana na Bunker na época em que o dólar estava 1 x 1. Consegui trazer os maiores nomes para a boate e virei o ‘cara’ da cena no Rio”, diz ele, que viu potencial para levar o público além da boate e criou a Bunker Rave em 2000, sempre com cinco tendas unindo diferentes estilos musicais em lugares distantes da cidade; durou até 2004.
Pensando nisso, ele vai unir-se a outras festas para fazer o Bunker Festival, dia 25 de agosto, no RioCentro, e comemorar a diversidade – de música, estilos, tribos e ideias – com a Emociona, Euphoria, Fosfobox, Privilège, Rio Me e Revolution Party. Nem dá pra imaginar que esse empresário da noite nasceu na pequena Destêrro do Melo, interior de Minas e trabalhava na lavoura, vindo morar no Rio, aos 18 anos. Essa ligação com a natureza deu a ele pés no chão para manter a sanidade — comprou um grande terreno na região da Costa Verde (RJ) há alguns anos e nomeou o lugar “Sítio Liberdade”, que acaba de ganhar um certificado do IBD (Inspeções e Certificações Agropecuárias e Alimentícias). “Quero fornecer produtos orgânicos para o Rio”, diz ele.
Como será o Bunker Festival?
Vamos manter a originalidade com as cinco tendas, uma para cada festa, com capacidade para 2.500 pessoas. Teria que ser num lugar grande, por causa dos órfãos da Bunker, que são muitos. Quero trazer DJs famosos, os gringos que arrastam multidões.
Como vê a evolução da noite carioca?
Sou a bicha mais velha desta cidade (ele tem 44 anos), mas estou no formol. O Rio deu uma encaretada, obviamente, por questões administrativas. A violência contribuiu muito, os eventos diminuíram e estão mais voltados para os clubes, pela segurança. No Rio, a gente tem que ter resistência. A Fosfobox tem 14 anos e cara de que foi inaugurada ontem, sempre recebendo um público jovem, reinventando o tempo todo.
Você teve muito problema com acústica na boate?
Tive muitos problemas, mas hoje tenho um diálogo muito bom com a Prefeitura. Chega uma hora que você fica numa posição que facilita, sabe onde buscar informações, e as pessoas te respeitam.
O público mudou de lá pra cá?
Acho que o público está mais consciente, a música segmentou e as pessoas sabem o que querem ouvir. Além de se cuidaram mais com as drogas, embora tenham muitos que usam, as pessoas estão bebendo menos, fumando menos, se drogando menos. Agora, para irem a festivais, os grupos fretam ônibus ou vans para poder beber. E os eventos também se tornaram mais profissionais. Hoje não posso fazer uma rave num terreno em Vargem Grande sem estrutura – não posso deixar o público à mercê da rua.
E a proposta do Ganjah?
É uma rede de tabacarias que combina arte urbana, música, moda e gastronomia, frequentado por uma galera descolada. Desde a inauguração, já passaram por lá mais de 300 artistas independentes. Mas vale lembrar que o Ganjah não incentiva o uso de maconha no espaço.
Como você recarrega suas energias?
Sempre que visito Destêrro do Melo e quando vou ao meu sítio. Tenho quatro nascentes lá e acabei de ganhar o certificado para comercializar meus orgânicos. Passei quatro anos subindo serra acima, a pé; tudo no lombo de um burro ou numa moto velha que eu comprei. Mas agora já mandei abrir uma estrada, e o carro chega na porta. Vou fazer uma casa maneira, pensando numa sociedade alternativa no futuro. Achei que, nesta idade, eu já estaria morando na roça, mas estou na prorrogação
Que produtos vc já tem por lá?
Tenho plantação de 40 mil pés de bananeira, 2 mil de aipim, 200 de coco, pupunha, açaí, tudo orgânico, nenhum agrotóxico. Quero vender em alguns lugares do Rio, em esquema de entrega de cestas quinzenais.