Futebol, política e humor: uma mistura perigosa se mal administrada. A irreverência, o sarcasmo, a inteligência são marcas do humorista Hélio de la Peña. Apaixonado por futebol, principalmente pelo Botafogo, o também escritor – autor de “Meu Pequeno Botafoguense” (2010) e “Vai na bola, Glanderson!” (2006), que se tornou o filme “Correndo atrás” com lançamento previsto no circuito nacional logo depois da Copa do Mundo – fala sobre as chances da Seleção brasileira na Copa, sobre o “menino Neymar” e ainda comemora a decisão do STF que derrubou, por unanimidade, trechos da lei eleitoral que restringiam a liberdade de expressão e de imprensa durante o período de campanhas. Além disso, ele volta nos dias 7, 8 e 9 de setembro com a peça “Crise no Show Bizzi”, ao lado do parceiro Mu Chebabi, no Theatro Bangu Shopping.
Botafogo ou Copa do Mundo?
Minha paixão pelo Botafogo está acima do futebol. Fico muito mais nervoso e me sinto mais responsável pelo resultado quando meu time joga. Sinto que minha torcida pelo clube faz mais diferença; afinal, somos poucos. O Brasil tem 200 milhões de torcedores; agora, Copa do Mundo é outra história. Gosto de acompanhar todos os jogos, desde os clássicos até um Arábia Saudita x Egito; e, depois, ainda têm as resenhas. Tem gente que só assiste a futebol em época de Copa. É difícil a pessoa ficar de fora do clima que envolve o Planeta. Teria que ser um marciano pra não dar valor à Copa do Mundo.
Qual seria a ‘cartilha de comportamento’ para assistir a um jogo do Brasil?
Gosto de assistir com a família, entre amigos, vestindo camisa canarinho, azul ou verde. Se for num horário compatível, uma cervejinha sem exagero pra não cochilar. E, por favor, não me venha falar mal do Neymar. Deixa o cara com suas marras, se fizer o que deve em campo, pra mim é o que vale.
Neymar é um nome muito falado mesmo…
O cara é midiático, não consegue dar um tempo das redes sociais, ainda mais num momento como esse. Ele cai muito, mas também é muito caçado em campo. Vem de uma cirurgia no pé, acho que as quedas muitas vezes são preventivas, pra evitar uma contusão mais grave. Mas outras vezes é presepada mesmo. Acho engraçado como as pessoas fazem análises profundas sobre o choro do Neymar. Foi uma explosão emocional. Se ele chorasse no vestiário provavelmente alguém gravaria e postaria. Chorando no meio de campo todo mundo pôde fazer o seu vídeo, até um selfie com o choro dele, e ganhar muitos likes.
Se você fosse o Tite, faria alguma mudança no time?
Se eu fosse o Tite, estaria feliz com a grana que teria ganhado nos comerciais. O time é esse mesmo, não mexeria. Só definiria um capitão pra todo o torneio. Esse negócio de cada jogo com um capitão é pra time de colégio.
O que acha que vai acontecer, tipo expectativa/realidade, com a seleção?
O Brasil vai chegar à final do Mundial. Temos boas chances de ser hexa. Se isso não acontecer, a seleção vai render boas piadas pro nosso canal no youtube – (youtube.com/casseta&planeta).
Qual a pior e a melhor coisa do brasileiro durante a Copa?
A alegria, as piadas, os memes animam a Copa. Mas tem sempre uns babacas pra queimar o nosso filme, como fizeram aqueles caras (dos vídeos assediando a russa). Na Copa cada torcedor é um embaixador do seu país, infelizmente tem gente que não se toca disso. A gente sempre fala que um dos nossos maiores problemas é a educação. Aqueles caras são a prova disso. Colhemos o que não plantamos.
Mudando de assunto, como você comemorou a decisão do STF?
Essa restrição era absurda! Os políticos podem rir da nossa cara, aprovando leis ridículas, trabalhando três dias por semana, cercados de mordomia. e a gente não pode fazer piada com eles? Fala sério! Mas preciso entender melhor o alcance dessa decisão do STF, o que só vai ser possível depois da Copa.
Hoje em dia, se você estivesse no ar, quais seriam os personagens mais caricatos e prediletos para fazer piadas?
O Brasil é muito generoso com seus humoristas. Nunca faltam personagens. Temer, Gilmar Mendes, Joesley ‘Safadão’, Lula, ‘Boçalnaro’, ‘Neymarra’; só pra citar alguns.
E o prefeito do Rio seria um ótimo personagem?
O Rio tem prefeito?
Como carioca, como vê sua cidade?
Estado de calamidade pública. Cidade e estado. Abandonados, sob controle da bandidagem. Desperdiçamos as maiores oportunidades que uma cidade podia ter: Pan Americano, Copa, Olimpíada…. Perdemos o Maracanã, nada funciona de verdade. Polícia, hospitais, colégios, é triste.
Já sofreu preconceito ou racismo?
Sim, quando era desconhecido, era apenas mais um preto nas ruas, tomava duras dos guardas, era mandado pro elevador de serviço em prédios da zona sul. Hoje a coisa é diferente.
Acredita que as redes socais mudaram a forma de fazer humor?
Sim. Todos têm meios para fazer piadas e publicá-las. Houve um tempo em que você tinha que trabalhar num jornal, numa rádio ou na tevê. Hoje cada pessoa tem sua rede. E as piadas são mais imediatas. O Maradona aparece bêbado num jogo, dois minutos depois já tem um meme com ele. Aumentou a quantidade, tem muita gente fazendo humor de qualidade. Tem muita coisa ruim também.