Gaudêncio Fidelis, curador da mostra “Queermuseu: cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, enviou uma nota em apoio à mostra “Corpos Visíveis”, nesta terça-feira (05/06), evento que ocuparia a Arena Carioca Fernando Torres, o Parque de Madureira, nos dias 8, 9 e 10 de junho, mas que foi cancelada pela Prefeitura. Durante a mostra, seria encenada a peça “O Evangelho segundo Jesus, Rainha do Céu”, na qual Cristo é representado por uma transexual. “Depois de censurar a ‘Queermuseu’, o prefeito comete mais um ato impedindo a livre expressão num evento LGBTQI+. É lamentável que uma das cidades mais importantes do mundo cultural e artisticamente venha sofrendo consistentes ataques de uma liderança política fundamentalista, que, por motivações eleitoreiras, não aceita a liberdade de expressão”, diz o texto.
Segundo a Secretaria Municipal de Cultura, a mostra não foi cancelada pela Prefeitura, mas “pelo Processo nº 0092486-69.2018.8.19.0001, cujo espaço está com todas as atividades suspensas há cerca de um mês; não apenas a mostra ‘Corpos Visíveis'”. No entanto, Marcelo Crivella publicou um vídeo em seu perfil no Facebook em que afirmou que, na administração dele, “nenhum espetáculo, nenhuma exposição vai ofender a religião das pessoas.”
Na tarde desta terça-feira (05/06), organizadores do evento se reuniram na Praça Agripino Grieco, no Méier, para uma manifestação. Karina de Abreu, à frente da mostra, disse que soube do cancelamento a apenas quatro dias do evento. “Queremos dar visibilidade a essa censura. Recebemos um comunicado oficial nessa segunda-feira (04/06). Tivemos uma série de atividades vetadas estranhamente, muito arbitrário. Tanto a peça quanto a programação têm o intuito de dialogar, promover a convivência e atrair as pessoas para combater a homofobia. A peça fala do amor incondicional, prega os mesmos pressupostos cristãos, mas Jesus vem no corpo de uma travesti, uma classe marginalizada”.
A ativista Indianara Siqueira, da Casa Nem, de acolhimento a transexuais e travestis, também estava no protesto. “Como um prefeito não está a par dessas pastas? Elas não pegaram uma peça e simplesmente colocaram ali, não pegaram um edital e resolveram lançar… Foi tudo conversado e de repente o prefeito cancela. O Brasil é o país que mais mata LGBTI+ no mundo. Dia 28 é o dia Internacional do Orgulho LGBTI+ e temos que parar com isso e mostrar que a cidade é de todos”.