Quem, com mais de 30, não lembra dessa voz incrível? Sucesso absoluto na década de 1990, o cantor Edson Cordeiro, de 51 anos, mora há 11 na Alemanha e segue na vida artística lá fora. Agora, porém, volta ao mercado brasileiro, com o álbum de inéditas “Bem na Foto”, seu 13º, depois de cinco para o público europeu, comemorando 30 anos de carreira. O primeiro single, “Voz e Violão”, será lançado nas plataformas digitais a partir desta sexta-feira (22/06), e o restante das músicas será em doses homeopáticas, no esquema faixa a faixa.
Em breve, ele também entra em turnê, acompanhado da banda Os Fotogênicos pelo País. Nas redes sociais, a descrição do perfil do cantor diz assim: “O fenômeno versátil considerado pela imprensa europeia como a 8ª maravilha do mundo”. Além da carreira profissional, a amorosa vai muito bem, obrigado – há 10 anos, está casado com Oliver Bieber, escritor de livros infantis, ilustrador, artista plástico, desenhista e empresário de Cordeiro na Alemanha.
Sente falta do Brasil?
Sinto sim, mas eu só consigo trabalhar na Europa, porque fiz um nome aqui. Fundei minha carreira no Brasil, mas, quando me mudei pra cá, já tinha meu primeiro disco de ouro, com mais de 100 mil cópias vendidas. Sou grato ao Brasil e sempre serei, mas claro que viver na Alemanha é muito mais fácil, a qualidade de vida é muito mais digna. Porém, como tenho família, fãs e amigos no Brasil e quero fazer parte daquelas pessoas que querem ver este país mudar, não vou desistir de lutar até o fim para que isso aconteça. O Brasil precisa de música boa, de arte, gente bem-intencionada, como eu. Tenho muito a contribuir, mesmo estando longe.
Já sofreu preconceito aqui?
O mundo está perigoso pra todas as pessoas que saem do padrão que elas estabeleceram. O Brasil é o país que mais mata homossexuais no mundo, numa estatística assustadora, mas fundamentalistas e preconceituosos existem em todos os lugares. Já sofri preconceito na Europa e no Brasil; não estamos seguros em lugar nenhum. No entanto, o que não me mata, fortalece, e estou aqui para me juntar ao coro das pessoas que dizem: ‘Vocês vão ter que se acostumar comigo, vocês vão ter que me incluir. Não quero ser tolerado, quero ser respeitado, e essa é a minha luta’.
Como é sua vida na Alemanha?
Produzo shows e gravei vários discos aqui. Música é meu único trabalho, e faço muitos shows. Tenho prazer de cantar para brasileiros, mas 90% do meu público é alemão, e foi um trabalho de muitos anos para conquistá-los. Minha vida é maravilhosa; moro numa cidade ao norte da Alemanha, próximo a Hamburgo, chamada Lübeck, que é medieval, linda. E viajo o mundo todo: Áustria, Turquia, Portugal, Croácia…Tenho uma vida tranquila e sou muito feliz, e acho que isso aparece na minha música. Amo e sou amado.
Para você, quais são os destaques da cena musical brasileira?
Estou sempre acompanhando tudo que acontece. Quero falar de um pessoal que está seguindo o caminho fora do circuito muito pop. No álbum, vou cantar duas músicas inéditas da Heloá Holanda, compositora, cantora, produtora e música; ela toca vários instrumentos. Se você não a conhece, vá ao YouTube — o trabalho dela é maravilhoso. Também um samba do carioca Leo Russo. Gravei uma música do Luiz Gabriel Lopes e Rômulo Fróes – o primeiro é um grande compositor; o segundo, além de produtor, compositor, cantor, produziu o novo vídeo da Elza Soares, ‘A Mulher do Fim do Mundo’. ‘Violão e Voz’ é de um jovem compositor, o Danilo Audi; e o José Cândido, de São Simão, interior de São Paulo, compôs três músicas para o meu CD. Então, o boom também acontece em certos lugares onde as pessoas talvez não tenham tanta exposição, mas merecem ser falados.
Um cantor tem que acompanhar as mudanças?
Com 30 anos de carreira, já passei por todas as fases do mercado, todas as crises e novas tecnologias, mas estou aqui, sobrevivi. Acho que, para continuar promovendo, divulgando a minha arte, eu me adaptaria, me adaptarei a todas as novas tecnologias que vierem — mas sabendo que isso é efêmero também. Essa nova maneira de divulgar faixa a faixa pode ser rápida, mas, como bom aquariano, já estou pronto para o futuro.
Foto: Gal Oppido.