Foi-se o tempo em que tatuagem era vista com olhos tortos. Atualmente é difícil encontrar alguém que não tenha um rabisco na pele, seja o mais simples e pequeno possível. Destacar-se num meio tão competitivo é para poucos e foi o que conseguiu o carioca Kiko Tattoo, que começou na carreira em 1995 e transformou sua paixão em negócio de sucesso – ele cobrava R$ 50 por hora; hoje é R$ 690 -, com quatro lojas: três no Rio e uma em Miami.
Kiko foi o convidado deste fim de semana para o workshop “Art Fusion”, parte do projeto “Acontece ao Vivo”, na loja da Vivo na Barra, com bate-papo e sobre os desafios deste mercado no País. “Quando comecei, ainda tinha muito preconceito. Hoje atendo desembargadores, juízes, médicos, CEOs. Fundei a primeira Escola de Formação de Tatuadores no Brasil”, diz Kiko, cujos traços estão em corpinhos bem conhecidos como Isis Valverde, Bruno Gagliasso e Priscila Fantin, por exemplo.
Você começou a tatuar em 1995. A tatuagem não era muito bem vista?
No início, tudo era difícil; nós adequávamos os equipamentos pra fazer o efeito que a gente queria, tínhamos que fabricar muita coisa e nos adaptar. Outra questão é que as pessoas não estavam acostumadas a pagar um preço justo por uma obra de arte – a tatuagem era somente marcar a pele. Então, os profissionais da minha geração fizeram algo de alto nível, trabalhos realísticos, criação direta na pele, chamado de ‘free hand’. Estudamos todos os estilos de tattoo, como o oriental, o polinésio (tribal), o realismo colorido etc. Na época, não entendiam isso – achavam caro. Tivemos então que começar a colocar valor no trabalho, e as pessoas foram aceitando aos poucos. Você dizia que era tatuador, chegava num banco pra abrir uma conta, e o gerente não me olhava como hoje, em que ele me trata como um empresário.
Qual o tipo de cliente que te procurava antes e que te procura agora?
Comecei minha carreira em Copacabana; logo depois, fui pra Barra, e já atendia uns clientes com um nível, tanto cultural quanto de poder aquisitivo privilegiado. Eu conseguia fazer com que as pessoas pagassem um pouco mais do que o mercado. A minha hora começou com R$ 50 e hoje é R$ 690.
Quando realmente você começou a ficar conhecido no meio?
Começou no boca a boca. Tatuava das 10h da manhã até 1 da manhã; ficava o dia inteiro fazendo de quatro a cinco tatuagens. Como a Barra é muito perto do Projac, tive clientes globais tatuando, jogador de futebol, uma galera de mídia também, e foi fazendo isso acontecer.
Tem noção de quantas tatuagens já fez até hoje?
Não é possível ter essa noção; são 23 anos de carreira, trabalhando de segunda a sábado. Não dá para fazer essa conta, é difícil, são quilômetros de pele tatuada.
Como aconteceu de a sua arte virar um negócio?
Eu trabalhava em banco e fazia faculdade de Processamento de Dados; então eu sempre tive uma forma pragmática e acreditei que a tattoo era a minha profissão de verdade, ao contrário da grande maioria dos tatuadores, que acreditam que são artistas e que aquilo ali é um estilo de vida. Abri a primeira loja, a segunda, a terceira e agora estou com uma nos Estados Unidos e não sei aonde mais vou parar.
E a loja de Miami?
Desde 2006, eu tenho uma carreira internacional, participando de convenções na Europa – trabalhei em Ibiza, durante nove anos, no verão. Sempre quis um estúdio fora do Brasil, até porque as coisas acontecem muito mais rápido lá fora, como novos equipamentos, acesso a galerias de arte, museus, cursos de pintura. Tive um reencontro com um amigo de uma multinacional conhecida dos Estados Unidos, e ele sugeriu sociedade. Consegui o greencard há um ano porque aquele país acreditou no meu trabalho diferenciado. Também faço reconstrução de auréola para mulheres que tiveram câncer de mama.
Existe uma preferência de tattoo?
Nas minhas lojas, não existem álbuns prontos, todos os profissionais trabalham desenvolvendo algo exclusivo para cada cliente na hora, procurando entender aquela pessoa, o que ela gosta, o que mais tem a ver com ela.
Ter artistas como clientes ajudou a fazer seu nome?
O Bruno (Gagliasso) levou outras pessoas, e isso ajudou sim, mas acho que as pessoas têm que procurar o tatuador por causa do seu trabalho. Já vi tatuagens ruins em pessoas famosas e esses profissionais ficaram famosos por isso; então não acho que isso seja um parâmetro.