Ao contrário do que vemos em eventos sociais e lançamentos de novelas, a seriedade foi a marca registrada no rosto dos artistas durante o encontro para protestar contra a votação do Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 26 de abril, que pode “acabar com a obrigatoriedade de diploma ou certificado de capacitação para o as profissões de artista e técnico em espetáculos de diversões”, conhecido como DRT, nessa segunda-feira (09/04), no Teatro XP, no Jockey. A sala ficou tão lotada que várias pessoas sentaram nas escadas de acesso ou ficaram de pé mesmo para ouvir os integrantes dos grupos Movimento de Artistas e Atores (MOVA) – criado por Antonio Fagundes em 2013 – e o Movimento de Artistas de Teatro do Rio (MATER), que sentaram em cadeiras improvisadas no palco com um telão que transcrevia os discursos de 5 minutos cada.
Vez ou outra, o microfone era passado ao público, caso de Camilla Amado, atriz e professora de interpretação da maioria ali presente. “Sempre me perguntei esse mistério de todos estarem aqui na hora exata da reunião”, disse ela, fazendo todo mundo dar risada. “Mas a arte transforma a sociedade porque ela introduz o amor, a beleza, a harmonia, ética e responsabilidade. Não é de espantar que eles queiram acabar com isso”, finalizou aos gritos e palmas.
Houve até reunião de vilãs, só pra dar uma descontraída: Renata Sorrah, sentada ao lado de Marieta Severo, ou seja, Nazaré Tedesco, a eterna malvada de “Senhora do Destino”, de Aguinaldo Silva, e Sophia, a atual cascavel em “O Outro Lado do Paraíso”, de Walcyr Carrasco. O ator Thiago Fragoso lançou a piada: “Alguém duvida da força dessa união?”
Paulo Betti, do MOVA, citou a frase do escritor Henry James: “Trabalhamos no escuro, fazemos o que está ao nosso alcance, damos o que temos. Nossa dúvida é nossa paixão, e nossa paixão é nosso ofício. O resto é a loucura da arte”, acrescentando que “até acendi uma vela para que a gente encontre um caminho para fazer tudo da maneira mais correta e positiva para nossa profissão”.
A comediante Dadá Coelho, mulher de Betti, foi mais taxativa ao segurar o cartaz que dizia “vai voltar a carteirinha de puta, pelo menos?”, em alusão à descrição de vários artistas que tiveram o documento assinado pela Polícia Federal na década de 50 e 60, como Fernanda Montenegro.
Zezé Polessa, também do MOVA, confirmou que a classe vai marcar um encontro com a ministra Cármen Lúcia, presidente do STF, para entregar-lhe, em mãos, um documento feito pelos artistas, como publicado aqui. “Perder nossos direitos é como perder massa magra depois de certa idade. Acredito que a Drª Cármen terá bom senso e consideração com a categoria”, disse Zezé.