Qualquer bloco de esquina de rua no Rio agrega centenas, milhares de pessoas, seja naquele boteco de bairro, seja até nos parados em pracinhas. Não é o caso do “Deixa Que Eu Cuido” – acreditem, um bloco formado exclusivamente por homens/pais que cuidam das crianças enquanto as mamães vão para a farra, que vai sair na Quinta da Boa Vista, no dia 10 de fevereiro, a partir das 15h. A proposta, porém, não é tão simples. Com três anos de existência, o projeto levou menos de 10 marmanjos para a festa. A ideia inédita é de Teo Cordeiro, 35 anos, dono de casa e “cuidador de crianças” assumido. Pai de Miguel, de 4 anos, e Lia, de 2, ele divide as tarefas diárias com a ex, Daniele Taha, e luta pela paternidade ativa e equidade de gênero. “O bloco é uma ação política porque desigualdade de gênero não é papo só das feministas. As mães não merecem arcar com os cuidados sozinhas”, diz ele. A proposta é conscientizar os homens de que eles têm que dividir, não só em datas específicas, mas no cotidiano, todas as funções “para que as mães possam realizar projetos que ficaram engavetados em nome de uma pseudovocação materna, que, sabemos, sempre serviu para o controle dos corpos femininos. Não queremos condecoração de pai do ano. Mãe, deixa que a gente cuida. Vai zoar. Vai tocar. Vai brincar”, incentiva Teo.
Funciona assim: as mães, solteiras ou não, que ficam sabendo do bloco, deixam os filhos com os “cuidadores” voluntários, conhecidos ou não, numa estrutura com bebidas e comidas para os pequenos num espaço delimitado. “Estamos tentando, mas nunca aconteceu de uma mãe deixar um filho com homens desconhecidos”, diz Teo, que tem dificuldade em ter a adesão de homens, sejam pais ou não. “No evento do ano passado, tinham 600 confirmados, mas apareceram apenas cinco. Até agora, estamos com 100, mas, mesmo assim, o bloco vai existir”. O motivo? “Muitos têm vergonha de assumir a função de cuidador, uma das mais desprestigiadas na sociedade brasileira, sem nenhum valor social. Somos invisíveis. Existe uma vergonha social em assumir essa condição; eu mesmo demorei um tempo. O cuidado não é inerente à condição de ser mulher ou me parece que essa tese já está sendo superada”. Gostou da ideia? Dá uma força para o “Deixa Que Eu Cuido“.