Quem no mundo da vaidade, no Rio, não conhece a cabeleireira Eliete Moreira Silva? Considerada uma das maiores tinturistas, cabeleireiras e “iluminadora de cabelos” da cidade carioca, ela também é maquiadora, depiladora etc, com cursos na Vidal Sassoon, na Inglaterra, em Los Angeles, Nova York e Miami. Há mais de 30 anos com seu Studio Eliete, no Shopping da Gávea (única empreendedora negra do local) acaba de abrir o Spa Acácia e administra uma loja de conserto de roupas, também na Gávea, num total, oferecendo trabalho a mais ou menos 60 pessoas. Seu salão é lotado de segunda a segunda e um dos segredos é a sinceridade com que trata suas clientes. Com toda a calma e classe ela diz: “Esse tom de louro é muito para você, na verdade, cor de gema de ovo não fica bem em ninguém”. Uma profissional que abriu mão de ter filhos para se dedicar ao trabalho. Acha que a vida para os negros é muito mais difícil no Brasil: “Antes vem as altas e claras”, afirma.
Como você começou sua história profissional no Rio? Você se apoia em alguma crença para vencer na vida?
“Cheguei ao Rio aos 12 anos vinda de Ilhéus, na Bahia, para morar na casa de um tio, nos desentendemos e passei uma semana na rodoviária, fui parar numa casa de família, onde dormia. Saí pedindo emprego e, logo depois, comecei num salão em Copacabana, como manicure e, em seguida, fiz curso no Senac. Devo muito a meu antigo chefe, o Vítor, do Othon Palace, que me orientou e insistiu para que eu fizesse faculdade – sou formada em Ciências Atuariais. Ele me dizia que, se eu fosse presa, teria direito, pelo menos, a uma cela especial. Foi ele quem me ensinou o “pulo do gato”. Mais tarde também fiz o curso de excelência de cabeleireiro, na UERJ. Quanto à fé, sempre acreditei em mim, sou viciada em trabalho, e, com 59 anos, tenho mais energia que muita garota de 20 – elas vivem doentes, arrastando chinelo”.
A vida foi dura com você no Rio, até virar uma empresária? “A vida é sempre mais difícil para os negros. Sempre trabalhei o dobro do que se fosse uma loira. Fora do Brasil me olham pelo que eu faço, aqui não, só do ‘3º passo’ em diante, antes vem as altas e claras. Quer mais racismo do que isso? Ainda assim, não me desanimo. Meu primeiro salão tinha uma cadeira para o cliente, um banco de manicure e uma maca de depilação. A clientela foi crescendo e, um dia, vi as clientes abaixadas no corredor, fazendo fila para serem atendidas e me dei conta de que não podia mais continuar assim. O síndico do shopping, que gostava de mim, dizia que eu era batalhadora, me ofereceu uma loja maior e eu fui para lá”.
A crise está atingindo o mercado da beleza? O que gostaria, ainda de conquistar? “A crise está aí para todos. No meu mercado, quem frequentava cabeleireiro três vezes por semana, passou a duas; quem vinha duas, passou a uma. Nunca tive sócios, tudo o que conquistei foi com minhas economias, mas se a essa altura aparecer, não vou dizer que não. Dizem que o setor de beleza está crescendo, mas hoje está tudo muito difícil, o governo cobra 100% de impostos, não há mais vantagens no comércio como há um tempo atrás. Continuo pesquisando novidades, acabei de trazer uma linha maravilhosa da Amazônia, só de tratamentos naturais e científicos, com o uso de células-tronco de algas etc, mas não quero conquistar mais nada. O que tenho vontade é de ficar mais solta, para atender minhas clientes em Miami e São Paulo e fazer mais casamentos. Aí daria para unir o útil ao agradável: viajar e ganhar dinheiro.”