Mestre em poética pela UFRJ, a crítica gastronômica Danusia Barbara, que morreu nesta madrugada de quinta-feira (28/05), usava e abusava da poesia e do humor para falar de culinária, um tempero, aliás, que procurava acrescentar nas suas relações pessoais. Era dessa maneira, por exemplo, que ela definia uma pizza: “Massa de pão, alguma coisa em cima e um forno quente. Parece invenção de político, mas deu certo”.
Criadora da página de gastronomia do “Jornal do Brasil” e do “Globo”, ajudou a popularizar a culinária feita no Rio como ninguém. “Ela foi importantíssima para a imagem do Rio, uma trabalhadora incansável, uma perda inestimável”, lamenta o chef Danio Braga, com quem ela fez a coleção de livros para o Senac sobre produtos – abordando só a batata, o tomate, o arroz, o porco etc – que não existia no mercado brasileiro. “Quero me lembrar dela com aquela garra e sorriso”.
O chef Roland Villard também é da opinião de que Danusia ajudou a consolidar a gastronomia da cidade no nível em que ela está. “Tinha o respeito de todos os chefs, nunca fez críticas para destruir ninguém e procurava conhecer o trabalho de todos a fundo. Nunca repetiu o título de ‘chef do ano’ em seus guias, estava sempre procurando valorizar os profissionais ainda não em evidência na mídia”. Bastante emocionado, o chef Claude Troisgros disse: “Danusia parceira, Danusia crítica, Danusia gourmand, Danusia amiga. Chegamos e crescemos juntos no cenário da gastronomia carioca. Chefs, restaurateurs, amantes da boa mesa, devemos agradecer a essa grande dama chamada Danusia Barbara”.
Com uma doença neurodegenerativa, a demência de corpos de Lewy, de sintomas parecidos com os do mal de Parkinson e Alzheimer, Danusia já não estava lúcida há um ano e meio, segundo seu ex-marido, o advogado Denis Borges Barbosa, com quem foi casada por 23 anos. Eles tiveram os também advogados Pedro e Ana Beatriz.
Ana aliás, sabendo da doença terminal, já tinha escrito um texto sobre a vida da mãe. Alguns trechos: “Viajou o mundo e conheceu os mais variados sabores, lugares e culturas, revolucionando a gastronomia carioca. Membro dos Companheiros da Boa Mesa, tinha um estilo literário próprio, deixando sua marca na vida de milhares de garçons, maîtres, chefs, donos de restaurante e do público em geral…Entrevistou as mais variadas personalidades da moda, da inteligentzia e das artes, de Pierre Cardin a Chico Buarque, Charles Aznavour a Carlos Drummond de Andrade, de Darcy Ribeiro a Rubem Fonseca, de Ayrton Escobar a Charles Mingus e D. Helder Câmara… Impactou a política dos anos 70 com a matéria publicada em 19 de janeiro de 1977, na primeira página do Caderno B do Jornal do Brasil, sobre a censura à obra “Feliz Ano Novo”, atacando um dos atos mais infelizes da ditadura”.
Continua Ana: “A todos do meio gastronômico, fica a margarida que era sua marca registrada em suas noites de autógrafo. Continuará a tomar chá e comer mamão, agora acompanhada de sua ‘mamusia’ (mamãezinha em polonês)”.
O velório começa às 13h desta quinta-feira, na capela H do cemitério São Francisco de Paula, no Catumbi, e o enterro vai ser às 15h30.