Carlos Tufvesson não exerce a profissão de estilista há três anos, mas continua ligado ao setor, como presidente do Conselho Municipal de Moda. Bastante preocupado com o cancelamento da edição primavera-verão do Fashion Rio – “não adianta transferir o Natal para março, se o Papai Noel vai passar em dezembro”, compara – ele promoveu um encontro informal, semana passada, com representantes de 30 empresas do setor. “Precisamos tornar mais claro que o evento não é só o desfile, mas um negócio”, diz, acrescentando que a moda é o segundo maior gerador de empregos do Rio. A esse respeito, ele se pergunta em que vão trabalhar as inúmeras costureiras que trabalham para as grifes – “Elas, com certeza, não vão conseguir recolocação no mercado”, lamenta Carlos. “Já perdemos muito para outras cidades, inclusive para Belo Horizonte, que há pouco tempo era apenas uma feira de bijuterias. Não critico quem vai desfilar em outros lugares, mas a minha cidade não é Pirenópolis, é o Rio e é uma cidade de moda, maravilhosa!”.
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Com o cancelamento do Fashion Rio Primavera-Verão a moda carioca chegou ao fundo do poço?
“Desde meus oito anos de idade cresci acompanhando a construção desse – que hoje chamamos de – sistema da moda brasileira. Minha mãe, junto com outros profissionais de moda, aqui no Rio, foram os responsáveis por isso. A moda carioca jamais chegará a um fundo do poço, pois ela nasce e se inspira pelo carioca, esse sim, o maior gerador de tendências do planeta! Não copiamos. Somos a fonte! Não quero nunca ver a moda brasileira chegar ao fundo do poço. Imaginar essa situação para a moda carioca seria imaginar um fundo do poço para nosso estilo de vida, para uma moda que inspira milhões de estilistas no mundo todo, para a expressão de nossa identidade cultural. O cancelamento de nossa principal semana é um baque, sem dúvida, que deixará sequelas que nem podemos imaginar ainda. Porém, o passado nos permite imaginar. Tenho certeza que saberemos nos unir em prol de algo ainda mais forte!”
Além dos próprios estilistas, quem mais terá prejuízos com a não realização dos desfiles?
“Quando falamos em profissionais de moda é toda uma cadeia que vai desde costureiras, modelistas, acabadeiras e estilistas. Mas também são partes essenciais para o evento a presença de jornalistas, stylists, agências de modelo, fotógrafos, assessorias de imprensa. Isso para não citar no que o evento em si significa em receita e turismo para a cidade. Vivi no passado esse esvaziamento nos anos 90. Vemos esse fantasma bater à nossa porta de novo e sei o que significou na época. Foi quando a moda se transferiu pra São Paulo, empresas fecharam aqui e abriram lá. Quem perdeu foi o Rio e toda uma geração de profissionais de moda que, com muito esforço, reergueu seu mercado para depois vermos esse “viés de baixa” que será momentâneo. Pois fiquem certos que a demanda da moda carioca sempre existe e existirá no país. Não vendemos apenas moda. Vendemos estilo! Semana passada, chamei 30 empresas que representam o setor, para entender de cada uma delas o que esse cancelamento significa para a marca e para seu negócio. A reunião foi na sede da Secretaria Municipal de Cultura, cedida pelo secretário Marcelo Calero. Foi unânime a preocupação do setor com o que já está afetando em nosso negócio e certa tristeza declarada de ter de desfilar fora do Rio, por falta de opção e oportunidade. Não dá para assistir ao triste fim do cenário da moda carioca e achar que está tudo bem! Tenho certeza que estamos diante de um momento no qual pode nascer uma sinergia igual ao que aconteceu na criação do Grupo Moda Rio.”
Muita gente diz que a moda carioca perdeu relevância nos últimos anos. Qual sua opinião sobre essa afirmação?
“Afirmar isso seria o mesmo que dizer que a criação perdeu sua relevância no país. A semana de moda já passou por altos e baixos, mas há sete anos saí do São Paulo Fashion Week pra voltar a desfilar no Fashion Rio. Seguramente, não é porque a semana estava “ferrada” ou “sem relevância”. Cabe imaginar o que aconteceu de lá pra cá, pra quem tem memória seletiva. Desfilar no Rio é um tesão! A sala tem uma vibração diferente. E é disso que a energia da criação se alimenta. Não só para a moda, mas todo show de rock, pop, MPB, samba… Tudo! Nossa plateia é incrível e tem uma energia sensacional! Mas a semana mudou, sim, seu perfil. Ficou diferente da semana que amamos. Víamos um esvaziamento a cada ano, fosse na escalação das grifes para os desfiles, fosse na decisão gerencial de uma semana mais fechada, que atendesse apenas àqueles com convites na mão e não os “amantes da moda”, como era no passado. Qual o interesse de um patrocinador como a Havaianas, por exemplo, que lotava seu estande antigamente, em apresentar suas novidades apenas pras jornalistas de moda? Esses já estão em seu mailing, ora!
Seria também intelectualmente desonesto não notar o esvaziamento que houve no SPFW, que até saiu da Bienal, mas nem por isso deixa de acontecer. E nem deveria! Muito menos na semana de primavera-verão. Pois a semana de moda é mais do que as roupas que estão na passarela. Ela é um mercado crescente na geração de empregos no Rio. Atentem-se aos números: são 296 mil estabelecimentos com até 99 empregados/cada. Só no setor de confecções são quatro mil empresas que geram 55 mil empregos diretos e mais de 90 mil indiretos.”