Yvone Bezerra de Mello conta que passou por momentos de terror, nesta manhã, nas salas de aula do Projeto Uerê, no Complexo da Maré. Homens do Comando de Operações Especiais (COE) e do Bope entraram na comunidade e o tiroteio foi intenso, levando crianças e professores a se jogarem no chão. Yvonne foi até oficiais do Exército, que estavam numa barreira 100 metros adiante, e eles disseram desconhecer a operação.
Ela, então, resolveu tomar satisfação com os policiais do COE em relação à segurança das crianças: “Estou puta com vocês!”, disse. Um deles a ameaçou: “Vai levar bala”. “Pode atirar”, foi a reação dela. A criadora do método educacional Uerê disse que já trabalhou na Etiópia, no Sul do Sudão, na guerra civil de Angola, mas que está apavorada. “Nunca vi tamanha violência num país sem guerra”.
Viúva do diretor da rede de hotéis Othon Álvaro Bezerra de Mello, Yvonne ficou conhecida por ter saído em defesa dos menores que escaparam da Chacina da Candelária, em 1993, quando oito crianças foram assassinadas por agentes policiais. Foi daí que surgiu o núcleo inicial do seu projeto de educação, com crianças de uma favela de São Cristóvão, onde um sobrevivente residia.
Uma professora do Uerê, que havia deixado o carro estacionado em frente à escola, teve a porta do veículo atravessada por uma bala. Yvonne decidiu suspender as aulas mais cedo e não sabe se terá condições de reabrir a escola, nesta sexta-feira (13/03).