O mineiro Ronaldo Fraga tem um lugar especial na moda brasileira: além de ser muito bem-humorado, é o estilista que mais aborda assuntos políticos, dentro e fora da passarela. Como gosta de contar, tornou-se estilista no susto: não teve mãe costureira nem irmãs provando vestidos em casa e nunca brincou de boneca. Mas investiu fundo na profissão: estudou na Parson’s School of Design (NY) e na Saint Martin’s School, em Londres. Seus desfiles sempre têm uma grande referência às raízes brasileiras e seus personagens: já homenageou Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Athos Bulcão, Zuzu Angel e o futebol brasileiro. Também já criou uma exposição sobre o Rio São Francisco. Com a mesma intensidade, se desiludiu do mercado da moda e deixou de desfilar na São Paulo Fashion Week, mas voltou atrás na decisão. Casado há 16 anos com Ivana Mendes, é pai de Ludovico e Graciliano.
Ronaldo anda entusiasmado com o projeto Design na Pele, dele e da artista plástica Heloísa Crocco, com apoio do Centro das Indústrias e Curtumes do Brasil e da Apex. Ele e Heloísa estão trabalhando com curtumes de todo o país para que o Brasil vá além de ser o maior exportador de couro in natura do mundo e conquiste valor agregado pelo design – hoje, não passamos do 40º lugar no ranking mundial. Os dois selecionam couros que se transformam em móveis, revestimentos de parede, calçados e vestidos. O projeto já passou por Hong Kong e Bolonha e vai ser apresentado em abril, na Feira de Design de Milão, e em junho na Couro Moda.
Embora nunca tenha desfilado no Fashion Rio, acha a paralisação do evento um fato tristíssimo: “Se estivéssemos falando só de um evento no cenário carioca já seria preocupante, mas estamos falando de uma questão de falta de patrocinadores, de apoio do governo ao segundo setor que mais emprega e que padece de sobretaxas, de uma falta de visão da importância cultural da moda na história do país – foi a primeira indústria que o rei de Portugal permitiu que fosse implantada, para vestir os escravos. Hoje acaba o Fashion Rio, amanhã acaba a indústria da moda no país!”.
UMA LOUCURA: “O quanto o tempo voa”.
UMA ROUBADA: “Insistir em ser empresário no Brasil”.
UMA IDEIA FIXA: “Ser otimista, só de raiva, em relação ao governo brasileiro”.
UM PORRE: “A nuvem moralista que envolveu o Brasil”.
UMA FRUSTRAÇÃO: “O descaso do governo brasileiro com os rios”.
UM APAGÃO: “A memória do povo brasileiro na hora de votar nos seus representantes”.
UMA SÍNDROME: “Nunca tive síndrome do pânico, mas sempre penso, em determinadas situações, que se tivesse, que se eu sofresse, aquilo ia ser fatal pra mim”.
UM MEDO: “Do crescimento da Frente Evangélica na política”.
UM DEFEITO: “Falar o que penso, sem pensar”.
UM DESPRAZER: “A situação da indústria têxtil brasileira. Em 2010 havia uma previsão de que a indústria têxtil nacional ia durar só até 2030; pois acabou antes, em cinco anos – restaram umas cinco indústrias grandes de produtos têxteis no Brasil”.
UM INSUCESSO: “Minha participação no conselho do Ministério da Cultura, representando a moda. Foi na gestão do ministro Gilberto Gil, continuando na do ministro Juca Ferreira. A questão é que não se consegue enxergar a moda com um peso cultural, só como um caso tributário. E o conselho não foi legitimado ainda, gastávamos três dias em Brasília em discussões para não dar em nada. Fiquei lá por dois anos e acho que cumpri meu papel. Depois me distanciei…”
UM IMPULSO: “Fritei nas mídias sociais o fato de a Giselle Bündchen ter usado Louis Vuitton na final da Copa do Mundo, em vez de uma marca brasileira. Mas foi uma coisa de que não me arrependi”
UMA PARANOIA: “Brigar sempre pela cultura popular”.