Fernando Bicudo, que estreou este ano na Sapucaí como jurado da Liesa no quesito enredo, deu nota 9,9 para o Salgueiro, criticada por muitos. “Quando fazemos o curso para jurados recebemos um manual com a descrição do enredo – ele tem que ter coerência e uma linha condutora histórica. No entanto, Renato Lage, que é um carnavalesco brilhante, cometeu um erro no desfile, que justifiquei por escrito na minha nota”, conta o ex-diretor do Theatro Municipal.
O tema do Salgueiro, que acabou em segundo lugar, foi “Do fundo do quintal, saberes e sabores na Sapucaí”, uma viagem pela culinária mineira. Bicudo diz que o carnavalesco defendeu a tese de que a culinária de Minas ganhou importância depois da exploração das minas de ouro, quando as famílias passaram a ter mais dinheiro. “O carro do banquete teria de vir na avenida, portanto, obedecendo-se uma ordem cronológica, depois do carro das minas de ouro, o que não aconteceu”, diz Bicudo.
Sobre a vitória da Beija-Flor, Fernando fala: “Várias escolas poderiam ter sido campeãs, mas a Beija-Flor fez um desfile deslumbrante”, conclui.
O fato do enredo da escola de Nilópolis ter sido bancado por um ditador africano não incomodou o jurado. “É como o caso da corrupção na Petrobras: por causa disso vamos recusar o patrocínio da empresa, negar as suas conquistas?”, pergunta. Do ponto de vista técnico, ele defende a perfeição do enredo, ao qual deu nota dez. Teve quem dissesse que a Guiné Equatorial não tem nenhum vínculo maior com o Brasil, porque não mandou escravos para cá, mas Bicudo garante que daquela região vieram muitos africanos para o nosso país.
O quesito enredo, como se sabe, não julga a escolha do enredo em si, mas o seu desenvolvimento no desfile. Talvez seja o caso da Liesa passar a analisar, também, a pertinência do tema, para que situações politicamente incorretas como essa não voltem a acontecer em novos carnavais.