De formação clássica – estudou piano, teoria musical, canto lírico, harmonia e cursou dois anos de regência – é difícil definir o estilo do compositor e cantor Eduardo Dussek. O irreverente e divertido carioca de Copacabana começou a carreira como pianista da comédia musical “Desgraças de uma Criança”, com Marco Nanini, Marieta Severo e Camila Amado. Dussek, que sempre foi muito ligado às marchinhas carnavalescas, adotou uma mistura de MPB com rock e o pop tropicalista dos anos 70, com letras debochadas e críticas. Foi descoberto pelo grande público no festival da TV Globo em 1980, com a música Nostradamus, e participou do movimento Rock Brasil, lotando duas vezes o Maracanãzinho com o show a reboque do sucesso Rock da Cachorra, de Léo Jaime.
Mas Dussek também é ator – ele começou na TV em 1988, fazendo par romântico com Carolina Ferraz em “Floradas na Serra”. Seu papel de maior destaque foi como o vilão da novela “Xica da Silva”, na mesma emissora, em 1996. Em 2010, trabalhou no filme “Federal”, tendo seu desempenho elogiado pelo ator americano Michael Madsen, com quem contracenou. Aliás, Eduardo vai voltar em breve às novelas, em “I Love Paraisópolis”, na TV Globo, como Armandinho, um paulistano quatrocentão que fica na miséria e vai morar na favela.
No ano em que completa 40 anos de carreira, os planos de Dussek são muitos: ele continua com o musical “Sassaricando”, há nove anos em cartaz, até março no Rio, e quer gravar nada menos que quatro CDs. Dois vão formar um álbum romântico, o terceiro será de sambas engraçados e o quarto, de marchinhas de carnaval. O ritmo de Dussek é tão frenético que ele tem quatro escritórios só para dar conta dos seus negócios: um para tratar de carnaval, outro de shows para empresas, um terceiro para espetáculos para congressos e mais os serviços do escritório Montenegro & Raman, para seus trabalhos como ator e comerciais. E ele também é dono da gravadora Sol Musical. Um dos nossos artistas mais completos, Dussek é, além de tudo, bem-humorado. Um capricorniano abençoado com vários talentos.
UMA LOUCURA: “Ter me metido com uma área artística que depende de direito autoral, vivendo no Brasil. Mamãe deveria ter me alertado e aconselhado a trabalhar com tráfico de drogas e contrabando de bebês pra Israel. Teria uma vida mais segura, sem tantos riscos”.
UMA ROUBADA: “Dar canja em festa, quando você já está de pilequinho. Se for na minha casa, en petit comité, só amigos, não ligo. Mas em festa aberta, detesto. Me sinto uma jarro de porcelana exposto pela dona da casa. Festa é pra se divertir. Se exibir é trabalho, não é diversão”.
UMA IDEIA FIXA: “Escrever, escrever, escrever…. mesmo não tendo tempo de finalizar meus trabalhos literários e dramatúrgicos para lançá-los. Vigi! Isso parece um carma! Vivo de música e de palco. Mas há trinta anos tenho mania de escrever e até hoje só lancei um livro: um songbook em português e inglês sobre a Carmen Miranda, com biografia, fotos, canções e CD – um luxo. Mas não está mais no mercado. Há no forno: dois romances, duas novelas, uma autobiografia divertida e um musical. Mas não desisto. Um dia eu chego lá!”
UM PORRE: “Uma situação – depois de trabalhar em três ou quatro shows diferentes numa mesma semana, encontrar uma vaca num supermercado, pela manhã. e ela perguntar: ‘Cadê você, parou de cantar?’ Respondo na lata: Parei ontem à noite, minha senhora! São dez horas da manhã, se estivesse cantando aqui, seria um mico, concorda? Se ela insistir com o clássico: ‘Não vejo em nenhum lugar!’, sou ligeiramente indelicado: Talvez madame não tenha acesso aos locais onde eu costumo cantar…. E encerro cavalheirescamente educado: Foi um prazer vê-la! Sabe onde fica a seção de queijos e vinhos, por gentileza?”
UMA FRUSTRAÇÃO: “Não ter uma canção gravada pelo Rei Roberto. Da Rainha Maria (Bethânia) já consegui: ela gravou lindamente ‘Eu velejava em você’, parceria com Isolda. Já posso entrar no céu!”
UM APAGÃO: “Os últimos governos do nosso país e de algumas republiquetas da América do Sul. Apagaram o Brasil, justo na hora que ele ia se iluminar. Estamos com lideranças vindas das trevas do universo. Tem que haver muita oração de exorcismo, pois toda elite fede a enxofre, tem a cabeça virada para trás e os olhos esbugalhados da Linda Blair. Quando ligo o Jornal Nacional, cai uma baba verde no tapete da sala.Se pudesse escolher líderes pra consertar o país, eu convidaria Max Von Sydow e Ellen Burstyn. Tenho amigos em comum com os dois. Vou tentar pelo Facebook”.
UMA SÍNDROME: “De estar sempre arrumando tudo, pois daqui a uma hora tudo se bagunça de novo”.
UM MEDO: “De ter medo”.
UM DEFEITO: “Esquecer a toda hora que ninguém é perfeito, mesmo sabendo que isso é que é o grande barato!”
UM DESPRAZER: “Atendente de loja mal-humorado (a), com visíveis problemas sexuais e de carência. O mesmo acontece com os nerds que programam as novas versões dos computadores atuais. Como não trepam, acham que os clientes têm que se masturbar, como eles, o tempo todo”.
UM INSUCESSO: “O show e o CD/LP ‘Contatos’. Errei de cabo a rabo. E ainda teve o plano Collor na semana da estreia. Só a amiga Costanza Pascolato gostou. Desde então luto, junto ao Vaticano,para canonizá-la em vida. Santa Costanza seria a ‘padroeira dos elegantes em apuros’”.
UM IMPULSO: “Me atirar em qualquer água cristalina que vejo. De preferência, sem roupa. Só não entro em mar revolto e lagos abaixo de zero”.
UMA PARANOIA: “Companhia aérea. Não tenho medo de avião. Tenho medo de companhia aérea”.