No palco do Teatro João Caetano desde 14 de novembro, “Chacrinha, o musical” é sucesso de público e tinha todos os ingredientes para ser: texto de Pedro Bial e Rodrigo Nogueira, direção de Andrucha Waddington, direção musical de Delia Fischer, Gringo Cardia na cenografia, uma trilha sonora de mais de 60 sucessos da música nacional e um orçamento de R$ 12 milhões da Aventura Entretenimento. Tudo isso não funcionaria, no entanto, se o ator principal não tivesse talento suficiente para reviver Abelardo Barbosa. E, surpreendendo a todos, Stepan Nercessian, goiano de 61 anos, não só supera a interpretação de todos os seus personagens que já desempenhou em novelas de TV, como chega a arrepiar a plateia com seu show de mimetismo. A plateia vem enlouquecendo com Nercessian, alguns dizendo até que o espírito do Chacrinha está naquele palco.
O que muitos não devem lembrar é que a carreira de Stepan é extensa e vem de longo tempo: ele teve sua primeira chance no cinema muito jovem, fazendo o protagonista gato de Marcelo Zona Sul. Participou de pornochanchadas e outros gêneros, desde 1970, fazendo no mínimo um filme por ano – em 1977, foram oito. Também nunca mais parou de fazer novelas na Globo desde que entrou para a emissora, em 1971.
Seu primeiro cargo na política carioca foi em 2004, como vereador, mas desde os onze anos já se interessava por política e pela esquerda. Exerceu também indiretamente esse lado como presidente do sindicato dos Artistas. Foi casado com Camilla Amado por 14 anos, é torcedor do Botafogo e ligado ao mundo do samba, como presidente de honra da escola Difícil é o nome. Confirmando sua fama de cara do bem, Stepan é presidente de uma das mais bonitas e bem administradas obras sociais do Rio: o Retiro dos Artistas, que cuida da saúde e abriga com carinho centenas de artistas aposentados.
Sua entrevista demonstra que senso de humor é outra de suas qualidades – leia:
UMA LOUCURA: “Pedir dinheiro emprestado a banco”.
UMA ROUBADA: “Não ter dinheiro pra pagar o empréstimo ao banco”.
UMA IDEIA FIXA: “Tenho ideia fixa em ser banqueiro. Nem que seja do jogo do bicho”.
UM PORRE: “Só tomei um porre na vida quando era adolescente. De lá pra cá o que eu faço todo dia é tentar curar a ressaca. Tomando umas e outras, é claro”.
UMA FRUSTRAÇÃO: “Não ter nascido rico, não ter ficado rico e provavelmente morrer pobre. A outra é saber que vou morrer sem ter transado com todas as mulheres do mundo”.
UM APAGÃO: “Eu sou um apagão. Quando lembro é porque o apagão falhou. Amnésia parcial tenho sempre. Um dia saí da casa de uma mulher pedindo a bênção a ela e cheguei em casa chamando minha mãe de gostosa”.
UMA SÍNDROME: “De encontrar alguém sorrindo e se divertindo numa festa cheia de gente e me dizendo que tem síndrome de pânico”.
UM MEDO: “Medo de brochar para sempre”.
UM DEFEITO: “Sou perfeito, perfeito, perfeito”.
UM DESPRAZER: “Quando não consigo ajudar alguém que me pede ajuda. Ou seja: é um desprazer não gerar prazer”.
UM INSUCESSO: “Botei todos os meus fracassos nas paradas de sucesso”. Acho que foi o Caetano Veloso que cantou isso”.
UM IMPULSO: “Salvar vidas. Mesmo arriscando a minha”.
UMA PARANOIA: “De tudo que gera paranoia”.