O paraense Milton Cunha, de 52 anos, chegou ao Rio aos 20 anos, formado em Psicologia, mas só aos 32 começou sua carreira de carnavalesco na Beija-Flor. Passou, depois, pela União da Ilha, Leandro de Itaquera, em São Paulo, Unidos da Tijuca, São Clemente, Viradouro, Porto da Pedra e Acadêmicos de Cubango e é o atual carnavalesco da primeira escola de samba da Argentina, na cidade de San Luís. O carnaval, ou pelo menos o espírito folião, nunca mais deixou de fazer parte de sua vida e trabalho. É diretor artístico dos shows da Cidade do Samba e comentarista da Globo do desfile das escolas de samba do grupo especial – ele acaba de acertar sua participação para 2015, ao lado de Fátima Bernardes, a convite de Boninho.
Esta semana, Milton terminou o quadro “Enredo e Samba”, no RJTV, onde chamou a atenção por suas qualidades de showman, irreverência e humor, mas já volta no próximo sábado: convocado pelo diretor de jornalismo da Globo Rio Miguel Athayde. vai comandar o quadro “O Bafão de Momo”. “Vou falar de tudo que é bafônico no carnaval, uma roupa, um personagem”, adianta.
Doutor em Letras/Semiologia pela UFRJ, Milton está fazendo pós-doutorado na Escola de Belas Artes da UFRJ sobre “Signos de Brasilidade em Rosa Magalhães”. Em fevereiro, o Senac lança “Carnaval é Cultura (Poética e técnica no fazer escola de samba) sobre a carreira de Milton, em livro de 350 páginas, 250 croquis e mil fotos sobre os 15 enredos desenvolvidos por ele de 1994 a 2010.
UMA LOUCURA: “Ser pai! Já transei com várias mulheres, numa de experimentar o sexo heterossexual, sempre avisando para que elas não se apaixonassem – tipo ‘estou te comendo, mas sou viado! (rs)’ – mas nenhuma engravidou. Ser pai é uma devoção, é levar para escola, enfim, não tenho tempo, mas gostaria muito de ser”.
UMA ROUBADA: “Se achar melhor que os outros, se colocar num patamar acima imaginando, assim, que o destino vai ser mais complacente – e aí vem o câncer, a solidão, a bancarrota. Ninguém é melhor que ninguém, a infelicidade é distribuída em cotas iguais”.
UMA IDEIA FIXA: “O prazer. Já nasci com o comportamento de só fazer o que eu quero, o que me faz bem, ninguém legisla sobre o meu viver, quero ter o prazer de estar inteiro na vida”.
UM PORRE: “As socialites. São muito chatas, não fazem nada, acordam e tomam o café trazido pelo mordomo, não tem uma profissão, não é real!”
UMA FRUSTRAÇÃO: “Não trabalhar em novelas. Quando cheguei ao Rio, em 1982, já vim com a carteira assinada pelo sindicato de Belém do Pará como ator e diretor e fiz minha inscrição no sindicato do Rio no ano seguinte. Quero teatro, novelas, sei que sou bom comediante. Estou aberto a convites”.
UM APAGÃO: “Joelma (a cantora Joelma, da banda Calypso, conterrânea de Milton) de tão burra, apaga! Como pode afirmar que ninguém pode ser viado? Ela é o próprio apagão, uma silvícola!”.
UMA SÍNDROME: “Entrar em transe de possessão quando a bateria de uma escola de samba começa a tocar. Não consigo ficar parado, largo copo, largo marido, fico louco”.
UM MEDO: “Do Bolsonaro (o deputado Jair Bolsonaro, conhecido por suas posições homofóbicas). Mas não é só de suas declarações reacionárias, tenho medo dele mesmo, acho ele feio, com uma cara demoníaca. Se eu encontrar com ele num corredor escuro saio correndo!”
UM DEFEITO: “Gozar rápido”.
UM DESPRAZER: “A política, por tudo que já disse sobre minha relação com o prazer. Pela política ser partidária, dogmática, por termos de dançar conforme a música dela. Por ser famoso, já me convidaram para ser candidato a vereador, mas sou um animal impossível de ser domesticado”.
UM INSUCESSO: “Minha barriga: há vinte anos me aperto em cintos, faço regime e não tem jeito”.
UM IMPULSO:”Agarrar a bunda do Hulk (o jogador de futebol)! Aquilo é um carro alegórico!”.
UMA PARANOIA: “Os fantasmas de minha infância pobre em Belém do Pará. Sou de Soure, na Ilha de Marajó, fui menino de beira de igarapé, e sempre fui viadinho, desenhava vestidos e flores na areia da beira do rio e apanhava muito. É uma dor física: não havia lugar para mim naquela estrutura, naquela família, eu tinha a ideia nítida de que só me restava esperar para ir embora, o que fiz quando completei 19 anos”.