A premiada escritora Marina Colasanti sabe ser desconcertante, mas nunca deixa de ser doce. Essa africana loura de olhos verdes, nascida na Eritreia e trazida pela família italiana para o Brasil, aos 11 anos, tem uma resposta rápida para explicar as dezenas de homenagens que vem recebendo nos últimos tempos – na Feira do Livro de Bolonha e outras mais Brasil afora: “É sinal de que estou velha” – diz -, “mas acho ótimo, estou viva”.
Marina, que é também é poeta, ilustradora, tradutora, contista, autora infantil e juvenil, foi jornalista e editora de revista, a primeira mulher copidesque da imprensa brasileira, redatora e apresentadora de TV. Convidada para falar com criancinhas de 5 anos sobre seu livro “O Lobo e o Carneiro no Sonho da Menina”, na recente Festa Literária de Santa Teresa, Marina apareceu no clima da atividade: como sabia que as crianças iriam de pijama, com travesseiros e bichinhos de pelúcia, ela entrou na sala de aula de roupão azul-nuvem e chinelos com cara de cachorro.
Casada há 43 anos com o poeta Affonso Romano de Sant’Anna, mãe da atriz Alessandra Colasanti e da tradutora Fabiana Colasanti, diz que na sua vida não existe rotina. Ou melhor, só às terças-feiras, dia em que faz feira, supermercado e vai ao banco, tudo em Ipanema, onde mora.
Em relação ao Brasil e à política, Marina confessa: “Eu estou olhando, tentando entender como se mexe e quem se mexe… Tudo estava aparentemente tão bem e tranquilo até as placas tectônicas começarem a sambar! Mente quem diz que entende, é muito difícil”.
Para manter-se ativa, dá como receita a paixão: “Amo de paixão o que eu faço; minha infelicidade é não ter trabalho”, afirma. Até o fim do ano, a autora de mais de 50 livros, que queria ser pintora, terá muitos motivos para ficar satisfeita: termina as ilustrações de um novo livro de contos, “Como uma carta de amor”, lança uma coletânea de seus contos de fadas, “Mais de 100 histórias”, e traduz mais um título da escritora argentina María Teresa Andruetto, que se chamará “A terra de um João”.
UMA LOUCURA: “Loucura é acreditar-se plenamente são.”
UMA ROUBADA: “Me roubaram uma ideia, e nunca devolveram.”
UMA IDEIA FIXA: “O livro que estou escrevendo, enquanto o escrevo.”
UM PORRE: “A burocracia, qualquer burocracia.”
UMA FRUSTRAÇÀO: “Estar num só lugar de cada vez.”
UM APAGÃO: “Difícil, viver sem borracha.”
UMA SÍNDROME: “Sofro de perfeccionismo, e não obtive cura.”
UM MEDO: “Tenho medo do caos.”
UM DEFEITO: “Não ter certeza de quais são eles.”
UM DESPRAZER: ”Desprazer é errar a medida do sal, do gesto, da bainha, do afeto.”
UM INSUCESSO: “Só um? ”
UM IMPULSO: “Abrir os olhos quando acordo.”
UMA PARANOIA: “Paranoia é sentir-me ameaçada se não carrego na bolsa nem uma caneta.”