Quem mora nos morros do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo ou é seu vizinho começou a denunciar, há alguns meses, a volta de tiroteios diários – sim, todos os dias – nestas comunidades. Demorou um pouco até o assunto, amplamente divulgado em redes sociais, com fotos e vídeos amadores, ganhar a mídia tradicional. Esta semana, com incursões da Polícia nas favelas “pacificadas”, uma amiga desabafou: “Quem consegue dormir com tiros e helicópteros passando sobre a cabeça? Me sentindo numa cena de Apocalypse Now”.
Como ela, muitos questionam os rumos da política de pacificação implantada na área há pouco mais de quatro anos. “Eles nunca saíram daqui e, agora, não há mais como esconder a guerra pelo controle do tráfico”, diz um outro morador de Ipanema, acrescentando: “E pensar que os gringos estão todos vindo pro morro”.
O Rio tem dessas contradições mesmo – os serviços deixam a desejar, mas a demanda não para de aumentar. Recentemente, a CNN veiculou uma reportagem sobre as opções mais baratas de hospedagem: nas favelas cariocas. E lembrou que, mesmo ali, as diárias para a Copa do Mundo vão sofrer com a hiperinflação. Também chamou a atenção para o fato de, mesmo sem saneamento básico e com o lixo se acumulando por ruas e vielas, a procura ser tão grande que, além dos hostels, até moradores estejam disponibilizando vagas para aluguel. “O tiro come solto, qualidade de vida não existe e o povo vai levando assim mesmo, como se houvesse um jeitinho para tudo”, diz aquela amiga que não consegue dormir, acrescentando: “E, por causa desse jeitinho, tudo vai continuar como está”.