As fotos acima foram feitas por um amigo da coluna e retratam o que ele, muito apropriadamente, classifica como uma “sociedade partida, que está mostrando as suas feridas”. No Arpoador, surfistas da Zona Sul, que não querem ter sua onda invadida, simplesmente picharam um muro com a inscrição “Só local – respeita ou rala”. A “proibição” não é para a praia toda; eles simplesmente não querem dividir o mar, por acreditarem que chegaram primeiro e se tornaram “donos do pedaço”.
Não bastasse o absurdo da situação, vale lembrar que pichar qualquer construção pública é crime; mas o surfista, surpreendido ao terminar a “pintura”, ainda tentou se justificar: “Isso aqui existe em qualquer lugar do mundo, não tem a ver com os justiceiros. Se bem que já protegemos a área há algum tempo e, quando o cidadão se vê ameaçado, tem que se proteger. Somos locais e cuidamos da praia o ano inteiro”.
Poucos minutos depois, mais à frente, no Posto 4 de Copacabana, nosso amigo flagrou o momento em que pedestres agarravam um menino, que estaria praticando roubos na área. Dois suspeitos maiores, que escaparam do cerco, reclamavam: “Querem pacificar e não dão casas pra gente?”. É a lei da cidade partida, onde o lado mais favorecido faz de conta que o outro não existe. E nosso amigo observa: “Agora, alguns abastados no corpo e vazios na mente, resolveram fazer a limpeza do lixão. Inclusive, os justiceiros do Flamengo estão botando pra correr também os gays que saem à noite para conhecido local de pegação”.
Os últimos acontecimentos no Rio nos remetem à época dos selvagens, em que não havia regras a seguir ou códigos de convivência em sociedade, apenas a lei do mais forte. Se é por força do calor, que afeta os neurônios e o bom senso, ou pelo inconformismo que atingiu um limite preocupante, ou pela omissão do poder público, o fato é que se iniciou um movimento de olho por olho, dente por dente – o princípio da barbárie. Como diz uma amiga, 2014 não vai ser fácil. E ainda estamos só em fevereiro.