Vivemos num estado quase permanente de carência; existe dentro de nós uma criança viva e esfomeada de amor procurando desesperadamente seu alimento. A tendência natural para saciar essa fome é buscar amor através do outro. Como peças de um quebra-cabeça que se encaixam de forma quase perfeita.
– Se ele me amar, me sentirei plena.
– Se não me amar, me sentirei uma merda.
Colocamos na correspondência do outro a avaliação de nós mesmos, ou seja, o poder sobre a nossa felicidade. Dependemos de sua visão sobre nós por sermos incapazes de nos olhar sem um espelho, e vamos aos poucos criando uma dependência desse olhar, para nos sentirmos vivos, ou mesmo existindo, ainda que insatisfeitos. Chamamos a isso de amor.
É comum, também, as pessoas confundirem amor com paixão. Na paixão, vivemos uma reação quando o nosso cérebro produz algumas substâncias químicas chamadas neurotransmissores; alguns deles, responsáveis pelo estado alterado dos apaixonados, são a Dopamina e a Norepinefrina, entre outros.
Euforia, distração, mãos suadas, pernas que tremem e o estado permanentemente sonhador dos apaixonados podem ser explicados por esses neurotransmissores, produzidos quando sentimos atração por alguém.
Durante esse estado, é inevitável o sentimento de posse total. Inquietude constante, coração acelerado (a proximidade dos corpos é quase uma necessidade de sobrevivência), desejo de um se fundir ao outro, mesclando pensamentos e alma.
Lugares antes olhados com indiferença são redescobertos e apreciados com intensidade, as cores mais vivas e brilhantes. Todos os sentidos se voltam numa mesma direção, e a presença do outro se torna indispensável para nos sentirmos SENDO…! DOENÇA deliciosa de sentir, perigosa e às vezes mortal, isso que chamamos de amor.
Na dependência, sentimo-nos incapazes perante a vida; incapazes de nos suprir e de nos aguentar sem o outro. É a autoinvalidação ou baixa estima e o distanciamento de nosso próprio ser interior.
A sensação que temos é que apenas existe o frágil ego, que não é suficiente para preencher-nos; o outro, então, se torna indispensável:
– É melhor isso que nada!
– Se eu me separar, o que farei com minha vida?
– Como vou me sustentar?
– E nossos bens? Ele vai me tirar tudo!
– Afinal, aguentei todo esse tempo!
– Não fui preparada para trabalhar ou não estudei…
E pelo vil metal, pela ILUSÃO de segurança, nos vendemos a uma vida insatisfeita, cheias de ressentimentos e tristezas que, pouco a pouco, vão roendo o nosso corpo sob a forma de várias doenças. Tudo isso, ocasionado pela visão inferior de nós mesmos; por nos sentirmos fracas, vazias, incapazes. Pagamos essa proteção com o nosso corpo e mantendo a casa comum organizada.
Na dependência, o homem se sente incapaz de cuidar de sua vida no aspecto doméstico; o que ele faz com segurança na rua, com o outro, na caça, sente- se incapaz em sua própria casa:
– Quem vai cuidar de minhas roupas?
– E a casa? Ter que lidar com as empregadas…
– Quando eu ficar doente, quem vai tratar de mim?
– Vou ser obrigado a comer fora, a fazer supermercado…
– Preciso do movimento das crianças para esquecer minhas dificuldades no trabalho (esquecer de mim).
EMPREGADAS DOMÉSTICAS OU PROSTITUTAS?
A diferença dessas dificuldades está no fato de que a mulher tem o instinto de autopreservação mais desenvolvido, enquanto, no homem, é o instinto social o mais forte.
E seguiremos nos sentindo assim, enquanto não OUSARMOS, desafiar esse olhar distorcido que nos mostra um ser pequeno e compartimentalizado, que não existe.
A mulher tem que desenvolver o seu instinto de caça, assim como o homem, o seu, de manutenção.