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Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 11 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda” e “O Livro do Amor”. Tem programa de rádio, coluna em jornal e dá palestras por todo o Brasil. Atua no Facebook e no Twitter, escrevendo sobre amor e sexo. Seu endereço no Twitter é @reginanavarro. Essa sabe o que está falando! Preste atenção às suas dicas para uma vida amorosa em 2013 e em todos os anos da sua vida.
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O amor e o sexo na nossa vida
As pessoas sofrem demais com seus desejos, medos, culpas e frustrações. A maioria repete o que aprendeu, sem questionar. Através da reflexão, podemos nos livrar de crenças e valores que tanto limitam nossa vida. A questão é que o novo assusta, gera insegurança; então, apesar da insatisfação, muitos se agarram aos padrões já conhecidos. Para viver bem, é preciso ter coragem.
Amor romântico
Várias são as mentiras que o amor romântico impinge a homens e mulheres para manter a fantasia do par amoroso idealizado, em que duas pessoas se completam, nada mais lhes faltando. Como isso não corresponde à realidade, em pouco tempo de relação as pessoas se decepcionam e se frustram. No amor romântico, você idealiza a pessoa amada e projeta nela tudo o que gostaria de ser ou como gostaria que ela fosse. Não se relaciona com a pessoa real, mas com a inventada. É claro que, na intimidade da convivência do dia a dia, você acaba enxergando a pessoa do jeito que ela é. Não dá mais manter a idealização, e a consequência natural é o desencanto.
Casamento
Uma relação estável pode ser ótima, mas isso só tem chance acontecer, para a maioria, se forem reformuladas as expectativas a respeito da vida a dois, como: total respeito ao outro e ao seu jeito de ser, suas ideias e suas escolhas; nenhuma possessividade ou manifestação de ciúme que possa limitar a vida do parceiro (a); poder ter amigos e programas em separado; nenhum controle da vida sexual do parceiro (a), mesmo porque é um assunto que só diz respeito à própria pessoa. Poucos concordam com essas ideias, na medida em que é comum se alimentar a fantasia de que só controlando o outro há a garantia de não ser abandonado.
Sexo no casamento
A ausência de desejo é o maior problema vivido pelos casais. O tesão acaba no casamento por vários motivos bem conhecidos: excessiva familiaridade, excessiva intimidade…. Mas acredito que o grande vilão dessa história é a exigência de exclusividade. Uma relação estável favorece muito a dependência emocional entre os envolvidos. Se você tem certeza de que o outro, por depender de você, tem medo de te perder e, por isso, não tem vida própria, jamais transaria com outra pessoa, você vai se desinteressando sexualmente. Não há sedução, não há conquista, não há o mínimo de insegurança necessária para que tesão continue após anos de convivência. Os dois acabam se transformando em irmãos. Não acredite em quem diz que a solução é ser criativo – isso não passa de um equívoco. É o desejo sexual intenso que leva à criatividade, e não o contrário.
Fidelidade
A grande preocupação das pessoas é quanto à exclusividade do parceiro (a). Entretanto, quando a “fidelidade” não é natural nem a renúncia, gratuita, o preço se torna muito alto e pode inviabilizar a própria relação. Ninguém deveria se preocupar se o parceiro transa ou não com outra pessoa. Homens e mulheres só deveriam se preocupar em responder a duas perguntas: 1. Sinto-me amado (a)?; 2. Sinto-me desejado (a)? Se a resposta for Sim para as duas, o que o outro faz quando não está comigo não me diz respeito. Não tenho dúvida de que é uma forma bem mais inteligente de se viver.
Ciúme
Existem pessoas que preferem abrir mão da própria liberdade, desde que seja um bom argumento para controlar a liberdade do parceiro. O ciúme, independentemente da forma como se apresente — discreto ou exagerado —, é sempre tirano e limitador, não só para quem ele é dirigido como também para quem o sente. Quem é inseguro não se acha possuidor de qualidades e tem uma imagem desvalorizada de si próprio. Por conta disso, teme ser trocado por outro a qualquer momento; restringe a liberdade do parceiro e tenta controlar suas atitudes. Só quem acredita ser uma pessoa importante não sente ciúme. Sabe que ninguém vai dispensá-lo com tanta facilidade. E, se tiver desenvolvido a capacidade de ficar bem, sozinho, melhor ainda. Pode até sofrer em caso de separação, mas tem certeza de que vai continuar vivendo sem desmoronar.
Separação
A separação é dolorosa porque impõe o rompimento com a fantasia do par amoroso idealizado, abala a autoestima e exacerba as inseguranças pessoais. Não se chora só a perda do momento, mas também todas as situações de desamparo vividas algum dia e que ficaram inconscientes. Os sentimentos depois de uma separação se misturam. O hábito, muitas vezes, se confunde com saudade e até com amor. Em muitos casos, observa-se um certo entusiasmo quando a separação é vivida como nova oportunidade de crescimento e de desenvolvimento pessoal. Alguns ingredientes são importantes: atividade profissional prazerosa, vida social interessante, amigos de verdade, liberdade sexual para novas experiências e, principalmente, autonomia, ou seja, não se submeter à ideia de que estar só é sinônimo de solidão.
Sem um par amoroso
É fundamental desenvolver a capacidade ficar bem, sozinho. Uma relação não pode ser por necessidade do outro, e sim pelo prazer de estar junto. A condição essencial para ficar bem, sozinho, é o exercício da autonomia pessoal. Isso significa, além de alcançar nova visão do amor e do sexo, libertar-se da dependência amorosa exclusiva e “salvadora” de alguém. O caminho fica livre para um relacionamento mais profundo com os amigos, com crescimento da importância dos laços afetivos. É com o desenvolvimento individual que se processa a mudança interna necessária para a percepção das próprias singularidades e do prazer de estar só. E assim fica para trás a ideia básica de fusão do amor romântico, que transforma os dois numa só pessoa. E quando se perde o medo de ser sozinho, percebe-se que isso não significa necessariamente solidão.
Mulher independente X Mulher autônoma
Estamos no meio de um processo de profunda transformação das mentalidades, mas não podemos esquecer que as mulheres foram oprimidas durante cinco mil anos e, só há menos de 50, elas passaram a reivindicar igualdade de direitos em relação aos homens. Muitas mulheres alcançaram independência financeira, mas ainda não são mulheres autônomas. Uma mulher autônoma é aquela que já se libertou dos padrões de comportamento impostos para a mulher na sociedade patriarcal, como: a mulher deve sempre tentar agradar ao homem, não pode demonstrar que gosta de sexo, jamais deve tomar a iniciativa, precisa de um homem ao lado para protegê-la, se não tiver um parceiro fixo e estável é desvalorizada etc…
O amor no futuro
Até recentemente, só era aceito quem se enquadrasse em modelos; isso é nocivo porque aniquila as singularidades. É provável que, no futuro, venham a existir formas variadas de se viverem as relações amorosas e sexuais. No momento, os valores tradicionais não dão mais respostas satisfatórias e, assim, abre-se um espaço para cada um escolher sua forma de viver. Quem quiser ficar 40 anos com uma única pessoa, fazendo sexo só com ela, tudo bem; mas o fato de se desejar vários parceiros também será visto como natural. Para nos livrarmos do modelo tradicional de amor, precisamos de coragem para abrir mão das nossas antigas expectativas, torcendo para que mais pessoas façam o mesmo. Descobrindo outras formas de amar, podemos experimentar sensações até agora desconhecidas, mas não menos excitantes.