Salve Maria!
O feminino, a mulher, a nutridora, a filha, a mãe de todos… Não só a Padroeira do nosso Brasil, mas sempre existe uma Maria em nossa vida!
Mas… Alguém já ouviu falar em “Meryem Ana”? Pois fica na Turquia e é o nome da colina no alto do “Bul-Bul Dag”, onde Maria, mãe de Jesus, morou com João (o evangelista) após a morte de seu filho, escondida dos romanos até morrer…
Eu estava na véspera de minha partida para a Europa com vários cursos marcados em Portugal e Espanha; seria um mês de trabalho intenso. Terminava de arrumar a mala quando ouvi a voz de meu marido na sala ao lado me chamando… Na televisão, passava um programa sobre a casa de Maria. Senti imediatamente uma atração irresistível por aquele lugar, e a reportagem terminou com o fundo musical da “Ave Maria”.
Entreolhamos-nos emocionados e, sorrindo, meu marido comentou:
– Hii… Já sei onde é a próxima peregrinação!
E, como sempre, ele tinha razão – fui! A Turquia já completamente ocidentalizada foi uma grande surpresa: a beleza, o dinamismo, o turismo intenso, a limpeza e a ordem, o progresso, a nossa história, o lugar onde provavelmente foi escrito em grande parte o Novo Testamento, as nossas raízes cristãs…
Vi o tamanho de minha ignorância, pois, em minha cabeça, nossas relíquias históricas estavam na Grécia, em Roma ou na Palestina; nunca havia pensado em Turquia. E, no entanto, está tudo lá!
Após terminar um seminário em Cascais (Portugal), reuni três alunos animados com a ideia: Caetana Espírito Santo Taborda, José Vaz Guedes e Helcius Pitanguy, que veio de Marrocos ao nosso encontro.
De mochila às costas, partimos rumo a Istambul e, depois de admirarmos suas belezas históricas por três dias, ainda de avião, rumamos para Izmir, onde começou a nossa caminhada até Celsius, junto de Ephesus, talvez uma das sete maravilhas do mundo.
Saindo de Ephesus em total deslumbramento, separamo-nos, cada um caminhando segundo seu próprio ritmo. Atravessei um campo de tabaco e a colina que seguia por entre papoulas e oliveiras; cheguei, após duas horas de subida forte por uma trilha de terra, a Meryem Ana! A sinfonia ininterrupta dos pássaros parecia festejar aquele momento. Ouvi o ruído de uma fonte e saciei minha sede, refrescando-me do calor quase insuportável; após mais uma curva, ali estava… A capela ao lado das paredes que o tempo preservara da casa de Maria!
Uma inexplicável emoção tomou conta de mim. Soluços romperam em meu peito, enquanto, surpresa, me perguntava a razão do choro: era o choro da alma… Ajoelhei-me feliz, lavada em lágrimas, protegida e acolhida na silenciosa e fresca construção de pedras. Perdi-me em sentimentos cálidos, desfrutando o colo da grande Mãe. Recordei a quantidade de aparições de Maria, o Princípio Feminino manifesto, e me comprometi a uma investigação séria sobre esses fenômenos, desejosa de saber qual a verdadeira mensagem que estaria sendo revelada aos videntes.
Não sei quanto tempo depois, um a um, chegaram os alunos que peregrinavam comigo. Ousei, a princípio timidamente, um canto: a “Ave Maria” sempre tão presente em minha vida, desde os tempos de menina em que participava do coral do Colégio Sacré-Coeur de Marie, o início da minha “história” com Maria, de amor e rejeição, briga e ressentimento, desencontro e reencontro.
Finalmente estava de volta a casa! Meus alunos me acompanharam no canto/ oração/ agradecimento/ saudação! Atrás de nós, uma voz de barítono se elevou e finalizou conosco o emocionado “Amém”… Identificamos o dono da voz com o padre de barbas até o meio do peito, que se aproximou comentando:
– O tempo parou para vocês… Isto aqui é um enxame de turistas, mas muito poucos vêm a pé e para estar com “Ela”… Deus os abençoe!
Minutos depois, o ruído inconfundível de vozes, máquinas e flashes invadiu o santuário… Os turistas chegavam em hordas ininterruptas, durante o dia inteiro. Só então, compreendemos o que o padre havia dito: Maria já nos esperava…
Diz-nos a História que, pelos idos de 1820, em Dulmen, Westphalia, uma mulher do povo chamada Anna Katharina Emmerich, que sofria de uma doença que a impedia de andar há 12 anos, começou a ter visões sobre a vida de Jesus e Maria. Visões extremamente ricas em detalhes, pessoas e lugares, normalmente inacessíveis ao conhecimento de uma camponesa presa ao leito.
Aos poucos, essas visões foram se tornando públicas, despertando o interesse de alguns intelectuais, entre os quais, o poeta alemão Clemens Brentano (1778-1842), que se aproximou com o pretexto de “secretariar” Katharina; durante anos, anotou diariamente o que ela dizia sobre Jesus e Maria. Mais tarde, publicou o livro “A Dolorosa Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo” e ainda outro volume, “A Vida da Virgem Maria sob as visões de Anna Katharina Emmerich”.
Maria viveu no campo, a alguns quilômetros de Ephesus, escondida da violenta perseguição dos pagãos aos cristãos, em uma pequena casa de pedra construída por João, no alto de uma colina.
A descoberta de Meryem Ana foi feita 50 anos depois, por um Lazarista, Pe. Jung, que vivia em Izmir. Após a leitura do livro de Clemens, surpreso com a simplicidade do que julgava “fantasia de mulheres”, Pe. Jung discutiu o assunto com seus companheiros e, por curiosidade, decidiu buscar o local indicado (não muito distante), apenas para provar a impossibilidade de qualquer veracidade no livro.
Em julho de 1881, com três companheiros e compasso na mão, seguiu precisamente as indicações de Katharina Emmerick. A surpresa foi imensa quando descobriram a fonte de água escondida sob as árvores frondosas, as ruínas de uma pequena casa ou capela… E, mais significativo, o nome indicado pelos camponeses: Panaya Kapulu (Portão da Virgem)!
Impressionado com a fidelidade da descrição feita por A. K. Emmerich:
“… do alto da montanha onde está a casa, Ephesus é visível de um lado, e do outro, o mar, mais próximo que de Ephesus…”.
Voltou a Izmir e contou a descoberta aos companheiros. Uma segunda e terceira expedições foram feitas antes que eles revelassem o fato às autoridades.
Em dezembro de 1882, o Arcebispo de Izmir quis ir pessoalmente ao lugar, acompanhado de uma dúzia de especialistas, para examinar o local. Não havia dúvidas quanto à identificação e autenticidade das ruínas, e ele não hesitou em fazer um relatório oficial.
Escavações posteriores revelaram o túmulo não muito distante, o átrio e a piscina onde, provavelmente, João batizava os cristãos, e encontraram ainda o túmulo de Maria… A Magdalena…? Ou de qual Maria…? Os vestígios das descobertas remontam ao século III d.C. – Meryem Ana Evi ou simplesmente Casa da Mãe Maria.
Maria, “Ora Pró Nobis”, por favor! E salve as Marias do mundo!