Sandra de Sá, considerada a versão feminina do Tim Maia, pelo timbre da voz, comemora aniversário no Riso Bistrô (restaurante de Jorge de Sá, seu filho, na rua Aníbal de Mendonça, em Ipanema), na próxima terça-feira (08/09). A noite é em homenagem a cantora, mas ela se apresenta, principalmente pelo Jorge, que também comemora aniversário. Fora isso, é a alegria de sempre, agenda cheia, figurino divertido, risada livre, voz bacana. Tá bom, né? Sandra comenta também sobre o racismo.
A mudança de ano tem algum significado especial?
“Mudança de ano tem o maior dos maiores dos significados, que é a vida. Melhor que um ano de vida, só mais 100 anos. Fazer aniversário, para mim, significa evolução, aprendizado. É como um estudante, no fim do ano, ganhar uma nota boa nos estudos. É estar mais próximo da conquista das metas traçadas. E fazer aniversário com meu filho é um bônus. É a coisa mais linda. Todo ano fico sempre muito feliz!”
Existe racismo forte no Brasil? E dentro de você, com a passagem do tempo, alguma coisa mudou com relação a isso?
“No Brasil, no mundo inteiro existe racismo. É bom falar nisso, temos que falar, mas com consciência. O ser humano não está se respeitando, seja porque um é branco outro é negro, outro é amarelo, seja porque um é nordestino, outro é gaúcho, porque um é rico, outro é pobre. O ser humano está batendo cabeça! De qualquer jeito, acredito que estamos tendo uma revolução para uma evolução. O ser humano, no fundo, está ficando mais consciente. Os conflitos estão vindo justamente por isso — porque as pessoas estão mais conscientes. Mais que uma otimista, eu tenho fé, acredito. E chego junto para fortalecer! A gente se juntando, se fortalece e distribui o peso, a carga”.
O que vc tem vontade de fazer ao perceber racismo? Pode contar alguma situação que a tenha ferido?
“Depende da situação. Tem situação racista que é tão pequena, que nem vale a pena olhar, pensar, lembrar. Tem vezes que é melhor deixar quieto, deixar a pessoa pensando. Geralmente não me magoo porque eu tenho muita coisa pra fazer, tenho minha vida pra tocar. Teve uma vez na casa da Lucinha Araújo, mãe do Cazuza (padrinho do meu filho, Jorge de Sá), em Ipanema, que passei por um situação horrível. Eu, meu pai, minha mãe e duas primas, chegamos ao prédio da Lucinha e, quando estávamos subindo, o porteiro falou pra gente ir pelo elevador de serviço. Quando toquei a campainha da cozinha, a Lucinha perguntou porque eu não cheguei pela porta da frente e eu falei: “O porteiro mandou”. Ela ficou louca. O Cazuza queria mandar prender e tudo. Mas, geralmente, essas pessoas fazem isso por ignorância, porque assim lhes foi dito. Quem não faz por ignorância, não faz abertamente, faz de forma dissimulada. No fundo no fundo, o porteiro devia estar pensando em defender o emprego dele. Sempre procuro me colocar no lugar do outro. Gosto de ser amada, paparicada, então quero fazer isso com o próximo. Isso me dá prazer”.
E os planos? A crise atual muda alguma coisa na vida do artista?
“A vida muda o tempo inteiro, principalmente a do artista; mas, numa crise, de certa forma, quem menos sofre é o artista. Não no sentido financeiro, mas no sentido que tem sua criação para extravasar a tensão. Um carpinteiro, um eletricista, de repente, não sabe como sua arte é importante. Não sabe como extravasar. Aí vem o estresse, vem a loucura. Nós, artistas, temos que usar nossa arte nesses momentos, justamente para dar colo para o povo. É o momento de criar mais, para dar acalento. O povo acolhe a gente, então temos que retribuir”.