Não que seja novidade para muitos, mas só hoje descobri que existe uma coisa chamada FWB – sigla em inglês para “amigos com benefícos”. No popular, amigos que transam. (Amigos, amigas e amigues, bem entendido.)
Em tese, deveria ser o melhor dos mundos. Amigos não fazem cena de ciúme, não exigem exclusividade, não chegam sem avisar, não abrem a geladeira sem perguntar se podem, não precisam dormir juntos toda noite, não implicam a existência de sogros e cunhados, e quando a amizade termina é só bloquear nas redes sociais, sem ter que dividir os bens.
Em tese.
Porque – como no “Alcoólicos Anônimos”, no “Eu Escolhi Esperar” e no “Vigilantes do Peso” – no FWB há uma série de regras para os que querem usufruir de certos benefícios com as amizades. Alguém até se deu ao trabalho de criar um hexálogo – uma tábua com meia dúzia de mandamentos para os adeptos da seita:
“Seja honesto e transparente sobre suas expectativas e sentimentos. Se você fizer sexo com outra pessoa, deve contar ao seu FWB sobre isso.”
Tudo bem que a gente se abra com os amigos e confidencie a eles, com um misto de orgulho e vontade de provocar inveja, as aventuras que não comentaria com o parceiro / a parceira de uma relação (supostamente) monogâmica. Mas o faz para contar vantagem, não para prestar contas.
“Guarde seus sentimentos para si mesmo. Você não deve ficar com ciúmes e, se ficar, não fale sobre isso. Apelidos carinhosos devem ser evitados.”
Perfeito: não há amizade que sobreviva a um Tchutchuquinha, a um Fofonchucho, a um Totozura. Aliás, admiro os casamentos que resistem a esse tipo de humilhação. Mas guardar os sentimentos para si e engolir o ciúme não era atribuição dos casados que queriam parecer desconsruídos, descolados e despossessivos?
“Embora haja o estereótipo de que as relações FWB não sejam exclusivas e que os participantes não estejam comprometidos romanticamente, o mais comum é que não haja permissão para dormir com mais ninguém. Isso previne infecções sexualmente transmissíveis e a emergência do ciúme.”
Estava mesmo bom demais para ser verdade. O/a/e FWB não seria mais que alguém de confiança, com uma vida sexual ainda mais anódina que a sua, com quem você possa transar sem usar um escafandro, e sem medo de se contaminar com meia dúzia de DSTs ou se envolver numa DR.
“Em completa contradição com a regra anterior, um subconjunto de participantes afirma ser permitido fazer sexo com outras pessoas fora de seu relacionamento FWB. O relacionamento é casual e você pode dormir com quem quiser – sem amarras, sem consequências.”
Ufa. O ser humano é capaz de inventar tanto o pecado quanto o perdão. O lápis e a borracha. A fotografia e o fotoxope. O cinto de castidade e o abridor de lata.
“Você deve ir embora imediatamente após o sexo e não deve dormir com pessoas diferentes no mesmo dia. Relações genitais devem ser evitadas, dando preferência à estimulação mútua ou sexo oral. “
Aí virou broderagem (ou sisteragem, siblingagem, whatever), que é aquele sexo que finge não saber o nome – e é tipo fumar e não tragar; tomar café descafeinado ou cerveja sem álcool; pegar o avião e ficar taxiando na pista, sem levantar voo.
Vale quase tudo –jamais dormir de conchinha ou pedir para espremer espinhas nas suas costas, porque aí não tem volta. Se for difícil não dormr com pessoas diferentes no mesmo dia, recomenda-se fazer amizade com gêmeos univitelinos.
“Esclarecimento de relacionamento. A última regra determina que deve ficar claro quando você desejar namorar outra pessoa. É preciso que os FWB estejam todos ‘na mesma página’ em relação à intenção do relacionamento.”
É o pé-na-bunda com aviso prévio.
Sei não, acho melhor casar logo de uma vez. Pelo menos tem quem passe protetor solar nas suas costas, vá ao mercado no sábado, pergunte se você tomou o remédio, cuide dos cachorros quando você viaja e ajude a pagar os boletos. Tudo bem que, com o tempo, haja grande chance de vocês se tornarem inimigos, mas, sabendo levar, dá para chegar as Bodas de Prata sem maiores malefícios.