
“Tchekhov e um cogumelo”: Djin Sganzerla, Samuel Kavalerski, Helena Ignez, Roberto Moura, Fernando Rocha e Michele Matalon /Foto: Jennifer Glass
A forma do cogumelo é absolutamente mágica. Casa dos gnomos. Enfeite de jardim. A forma opressora da lembrança da bomba atômica. Também o gosto de fino sabor, a textura, a própria raridade. E um autor, clássico dos clássicos, igualmente impactante, cheio de nuances, que nos desperta o melhor e o pior. É dessa mistura que a Cia Lusco-Fusco, com direção de André Guerreiro Lopes, reinventa em “Tchekhov é um cogumelo”.
Ao mesmo tempo traz um elemento emblemático para falar de memória. A montagem festeja os 80 anos de Helena Ignez, musa do Cinema Nova, atriz de longo e bem sucedido curso. Dessa forma, o espetáculo traz a história das três irmãs que se veem perplexas em um mundo em transformação. A acertada escolha formado por atrizes de diferentes gerações, Djin Sganzerla, Helena Ignez e Michele Matalon, não permitem que se conclua definitivamente: são diferentes ou são momentos da mesma mulher.
Reatualizando o clima fin-de-siècle do texto original, as mulheres levam para as contradições entre mudança e permanecer, organização e caos, cérebro e emoções. E para apoiar a forma diferenciada de contar a história, há ainda , a participação dos dançarinos Samuel Kavalerski e Fernando Rocha, do cantor e ator Cleber D’Nuncio e do grupo musical Embatucadores.

“Tchekhov e um cogumelo”: Djin Sganzerla, Roberto Moura, Helena Ignez, Michele Matalon, Samuel Kavalerski e Fernando Rocha /Foto: Jennifer Glass
O aparato tecnológico , comandado pelo diretor André Guerreiro Lopes que veste um capacete de eletrodos que capta sua atividade cerebral e emoções, ativando uma instalação sonora e visual desenvolvida pelo músico Gregory Slivar. O bimbalhar dos sinos, a vibração das cenográficas poças d’água ativa o efeito de chá de cogumelo. Entra em cena a entrevista do diretor José Celso Martinez Correa falando do seu processo criativo para “Três Irmãs”, na década de 70.
O resultado de atualidade tecnológica junto com as lembranças de José Celso, a maturidade de Helena Ignez com a força de Djin e Michele acabam por produzir um significado com força de bomba atômica, com o delicioso sabor dos cogumelos e a rara textura de um peça bem construída.
Serviço:
Teatro Clara Nunes
Sextas, sábados e segundas, às 21h
Domingos, às 20h