Um jovem autor, de forma fulminante, virou o namorado do Brasil; um diretor político, forte, polêmico, que encenava clássicos e não clássicos. Foi desses dois “monstros “que surgiu, em 1968, verão no Rio de Janeiro, a explosão de Roda Viva, um musical contracorrente, escrito por Chico Buarque e dirigido por José Celso Martinez Correia, que está sendo remontada na Cidade das Artes.
A peça abre com Zé Celso conversando na plateia, onde senta e interfere com os atores, com o público, sem nenhuma quarta parede ou cerimônia. Além disso, dois cinegrafistas retratam ao público os atores e projetam no telão o que se vê e quem se vê, exponenciando a percepção, aguçando o olhar e colocando quem vê também no palco.
“Em 68, Roda Viva foi massacrada, uma horrível repressão. Isso me fez decidir voltar, agora, com a peça. A polícia invadiu a apresentação em São Paulo e em Porto Alegre também. As atrizes e o elenco foram agredidos. “Roda Viva não representa nada; ela apresenta. Não é teatro de representação; a gente chama de “tragicomédiaorgia”, “O teatro é o aqui agora, ele projeta o futuro, sim, mas a partir da energia presente. “Inserimos: agronegócio, memes, notícias que acontecem a cada semana e a presença da Internet, que é muito central no musical”, revela Zé Celso.
A opção de se atualizar, de o fio condutor ser o Brasil de hoje, com todas as suas contradições, torna Roda Viva um libelo com o status quo. A trajetória de Benedito da Silva, seu sucesso, seu fracasso, seu desaparecimento é o pano de fundo para se evidenciar que o Brasil não muda, que a máquina tem o empenho de destruir o que vê pela frente, exatamente como as imagens de abertura do espetáculo.
Fotos: Paula Caldas e Jennifer Glassha
Serviço:
Cidade das Artes
Sextas, às 20h.
Sábados e domingos, às 19h.