Menos é mais. A máxima dos tempos contemporâneos seria totalmente descabida no século XVI — tempos de realeza, expansão dos mares, da Invencível Armada; tempos de Shakespeare, a majestade da dramaturgia, com um império de personagens, histórias grandiosas e uma corte enorme de personagens. Todas essas características estão em “Ricardo III”.
Gustavo Gasparani, com a coragem que só os grandes artistas possuem, encena sozinho 24 personagens diferentes do drama histórico, com direção de Sérgio Módena. E aí o menos vira um gigantesco espetáculo. Sem estar caracterizado — apenas corpo, voz e em um momento utiliza um véu —, Gustavo mostra que o ofício de ator está na capacidade camaleônica de mudar de voz, gênero e idade.
A peça se inicia com Gustavo em um enorme quadro mostrando as famílias e os personagens de que a peça trata. Aliás, recurso que seria ideal na maioria das peças de Shakespeare, pois facilita enormemente a compreensão. A partir daí, acompanha-se o jogo dos bastidores, os casamentos, as mortes, as doenças. Tudo plural mesmo.
O fio condutor, maldade/inveja/ciúme/delírio, do único personagem aleijão da obra do escritor, pode ser exagerado. No entanto, o que se vê é a força da interpretação, da utilização das luzes, do impecável trabalho de direção transformar o que seria pouco ou menos em um dos melhores espetáculos encenados nos últimos anos.
PS: Acompanha o espetáculo um ciclo de palestras. E domingo acontece o imperdível debate “Shakespeare e as cias de teatro do século XXI”, com Cesar Augusto, ator e diretor da Cia dos Atores; Daniel Herz, diretor da Cia Atores de Laura; e Paulo de Moraes, diretor do Armazém Companhia de Teatro.
Serviço:
Teatro Cesgranrio (Rio Comprido)
Sexta a domingo, às 20h