Ouro de tolo. Alquimia com vontade de transcender o tempo, a vida. O amor em qualquer época. Mas também pode ser antigo símbolo no qual a Serpente come sua extremidade oposta, decifrado por meio da gênese grega: Oura, “cauda”, Boros, “comer”. É esse viés delicado de paixão, encontro, voltar-se ao próprio sentimento que jamais morre o tema de “Ouroboros”.
Com texto e direção de Adriano Garib, o espetáculo é protagonizado pelos atores Anita Mafra, Manoel Madeira, Guilherme Duarte e Luciana Pacheco. A história se passa nos dias atuais e se refere a um problema que se torna cotidiano: ficar com o parceiro, trocar, encontros via aplicativos. Mas está lá o bichinho que nos angustia: pertencemos a alguém? Esse alguém nos pertence?
“Para dar a devida dimensão dramática às suas escolhas, lança-se mão de uma alegoria que expande o tempo das personagens. Assim, tais decisões passam a ser o resultado de suas ‘reais experiências de vida’, e não apenas de instintos e acasos. Como seria a sua vida e seus afetos se você pudesse viver por três séculos?”, entrega o diretor.
“Ouroboros”, com um cenário que mistura o antigo e o contemporâneo, trata da ancestralidade, do tempo que escorre, mas permanece. Da procura que não tem fim . Dos pares que dançam, mas que saem do ritmo e do passo. Que é mais do que se apaixonar, fazer amor. É algo de se penetrar, intensificar. Ter o sangue do outro. E dar o próprio sangue.
Serviço:
Espaço Sergio Porto
Sexta a segunda às 20h

No texto de Adriano Garib, a mulher anuncia que está interessada por outro homem, mas o casal decide continuar morando junto / Fotos: Adriano Garib