Quando vi o título da peça inglesa The curious Incident of the Dog in the Night-time, mesmo sem ler nenhuma crítica, apostei e fui. O espetáculo mais premiado do teatro inglês em 2013 – e olha que o teatro inglês é o melhor do melhor – baseia-se no best seller de mesmo título. A história, curiosíssima e repleta de incidentes, conta como um adolescente, portador da Síndrome de Asperger, se relaciona com os conflitos da separação dos seus pais, com os vizinhos e com a sua capacidade de viver a vida.
A adaptação brasileira de “O estranho caso do cachorro morto” foi escrita por Rodrigo Fonseca, que preferiu ir direto à fonte. Foi do romance, e não do texto teatral, que Rodrigo utilizou os diálogos. A encenação, de Moacyr Goes, reflete o tema da história: a professora-narradora configura a tensão entre aquilo que pode ser ficção e o que são os fatos na chamada realidade.
O cenário também apresenta as mesmas questões: o menino tem o pensamento linear, esquemático da matemática, sua maior habilidade. “Criamos um fundo milimetrado, salpicado de estrelas, e os objetos de cena são blocos de um conhecido jogo infantil de montar edifícios e casas, em grande formato”. “Com formas geométricas simples em cores primárias, é, ao mesmo tempo, a ênfase no concreto e a evocação da imaginação que o teatro proporciona”, diz Ana Santanna –cenógrafa junto com Monica Martins.
Em O Estranho caso do cachorro morto, a maior estranheza é vermos as trajetórias de aparentes perdedores, o menino, seus pais, os vizinhos, se transformarem em verdadeiras vitórias, na medida em que se esticam os limites. Quem não tem medo de ir, pergunta. A curiosidade inquietante do menino nos leva também à curiosidade de perguntar: é possível mesmo viver num mundo milimetrado, sendo uma pessoa diferente?
Serviço:
Sala Marilia Pêra- Teatro Leblon
Quintas, sextas e sábados às 21 horas
Domingos às 20 horas