O termo “condomínio” significa dividir a posse/propriedade ao mesmo tempo. A formulação das cidades, ainda mais em uma faixa valorizada e pequena como o bairro de Copacabana, obriga a moradias multifuncionais, à convivência compulsória. Explosão por pequenas coisas, a figura do síndico como um líder que não se respeita, a maldita e insuportável reunião povoam nosso cotidiano como pesadelos. Como transformar essa tragédia em comédia? É o que acontece em “O condomínio”, parte integrante da dramaturgia de Pedro Brício – as comédias sobre os impasses da contemporaneidade.
A escolha do Edifício Albervania, palco do famoso atentado a Carlos Lacerda no governo de Vargas, é emblemática para o tom do que se passa no palco. Um prédio tradicional, histórico, torna-se o centro de uma comédia de situações em torno de um cachorro problemático. De forma inteligente, os fatos acontecem ainda que não sejam encenados. São dois atores que desempenham os papéis principais: Domenico (Pedroca Monteiro) e Raymond (Sávio Moll), revezando-se em pequenos diálogos e interpretando, de forma eventual, os outros personagens.
Desde o início, a chave é a convivência entre pessoas totalmente díspares. A reunião de condomínio inicial já exibe as contradições: um músico, Domenico, é totalmente ausente dos problemas do prédio. O latido incessante do cachorro de Carmen transforma o artista em símbolo de tudo de ruim que acontece nessa quase prisão contemporânea. Obrigado a participar da vida do prédio e a falar com os outros, Domenico vê sua vida se transformar completamente. O cenário, assim como o figurino, é carregado nos tons de vermelho. Uma mesa de estúdio de rádio na lateral do palco permite que os atores façam as vezes de narrador.
As interpretações de Pedroca e de Sávio correspondem perfeitamente ao que se deseja dizer: tudo de um ridículo atroz. Os dilemas, os impasses, as soluções são aguçadas pela escolha em fazer algo parodístico de alguma novela radiofônica perdida, herança dos dramalhões latinos. As maracas, marcando o ritmo das falas, funcionam de forma a animar o que não pode ser animado: as situações são tão absurdas e, por isso, convenientes a se perceber como essas pequenas coisas não passam de coisas mínimas.
SERVIÇO:
Teatro Ipanema
Sábado a Segunda às 20h
Fotos: Ilana Brajterman