As alegorias são formas ancestrais de contar histórias. Como modo de expressão, interpretação de representar pensamentos, ideias, qualidades sob forma figurada, quando utilizada nas artes performáticas, são capazes de transformar algo que poderia ser banal em uma mensagem de absoluta força. É o que se dá, de forma competente, no solo “King Kong Fran”, protagonizado pela personagem-título Fran, criação da atriz e palhaça Rafaela Azevedo.
Rafaela tem se dedicado à chamada arte da palhaçaria, que é muito além daqueles clássicos circenses, nos quais o erro, a trapalhada e o desacerto exagerados são a base da graça. Rafaela, a partir do mito do grande gorila, que é capaz de mover, literalmente, céus e terras, para ficar com o objeto de sua paixão sexual, compõe um painel dos horrores que os homens cometem nos relacionamentos com mulheres.
Pedro Brício, o premiado diretor, junta-se à Rafaela no texto e na direção, para fazer cenas muito curtas, contundentes, que não deixam ausentes nenhum ponto das questões da dominação masculina . Sexo, conquista, vida a dois, trabalho, tudo está lá na, aparentemente, leve e solta atuação de Rafaela. E como em toda obra bem construída, com base na alma circense da mágica e da ilusão, o que é apresentado é grave, dolorido e causa profunda tristeza.
Fotos: Bruna Latini
Serviço:
Teatro Cesgranrio (Rio Comprido)
Sexta e sábado, às 20h
Domingo, às 19h