Todos os dias, perguntamos a nós mesmos de onde viemos e para onde vamos. Um aborrecimento no trabalho, uma palavra mal falada pelo parceiro amoroso, uma frase da tia no WhatsApp levam à fatal questão: o que é que eu tô fazendo aqui, neste lugar que acabou de se tornar estranho? Em torno do desejo de ficar, de ir, de desaparecer, de transmudar e os conflitos dilacerantes dessa situação é que se constrói espetáculo inédito, concebido e dirigido por Daniel Herz, “Isso que você chama de lugar”.
O espetáculo, com texto colaborativo junto de Clarissa Kahane, assistente na direção, e do elenco, composto por Carol Santaroni, Clarissa Pinheiro, Roberta Brisson e Tiago Herz, conta o confronto de quatro personagens em torno de decisões amorosas, profissionais que podem obrigá-los a mudanças físicas e emocionais. São quatro narrativas independentes, caminhos que jamais se cruzam, mas metaforicamente fazem a mesma trajetória.
“Tive essa ideia das histórias simultâneas a partir da reflexão sobre o lugar em que cada um se situa a cada tempo. Ter um elenco tão talentoso e confiante neste formato faz do desafio uma aventura deliciosa”, analisa Daniel.
O jogo dramático é de uma sofisticação surpreendente, pois são os personagens que falam seus monólogos para interlocutores, que também falam seus monólogos. Os quatro atores se desempenham muito bem, em uma interpretação que exige total concentração para exporem seus sentimentos, ao mesmo tempo em que contracenam com um texto que é totalmente independente e alheio ao que falam. Assim, o foco é obrigatório tanto para quem atua quanto para quem assiste.
O único objeto cenográfico é uma mala, metonímia de todas as histórias: o que se leva, o símbolo de partida, o que se deixa, o que se escolhe, a opção de vida concentrada em algo fisicamente limitado. E aí pensamos como é possível ter o principal da vida em tão pouco espaço, pois, na verdade, nossa vida vive em alguns centímetros quadrados: nosso coração e nossa cabeça.
Com um individualismo cada vez maior, todos parecem sempre tão ocupados, lutando pela própria sobrevivência a ponto de conversar sem se comunicar, quatro histórias paralelas “se cruzam”. As personagens se encontram no palco, mas não na vida, reforçando a incomunicabilidade que existe nas relações contemporâneas. Esse é o ponto de partida de “Isso que você chama de lugar”, espetáculo inédito concebido e dirigido por Daniel Herz, que estreia no dia 7 de julho no Teatro Laura Alvim, espaço da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa/FUNARJ.
Em cena, quatro atores contam quatro histórias concomitantes, parecendo às vezes que é a mesma história — mas são sempre histórias diferentes. Cada ator apresenta apenas a sua própria história, e os diálogos não são necessariamente diálogos, mas são sempre encontros. Tendo a dúvida como ponto central, o jogo cênico se assemelha a um quebra-cabeça e flerta com teatro do absurdo. Essa “vertigem cênica” alude à profundidade da decisão que os personagens, vivendo momentos cruciais, precisam tomar.
Fotos: Dalton Valério/Divulgação
Serviço:
Teatro Laura Alvim (Av. Vieira Souto, 176, Ipanema)
Sexta-feiras e Sábados às 20h
Domingos às 19h
Tel.: (21) 2332-2015