O véu simboliza a submissão das mulheres. Cobrir o rosto, esconder os cabelos, ainda que tratados como atos religiosos, nada mais são do que uma forma de abafar a mulher, seus desejos, sua força. Mulheres são submetidas a assédios, torturas (físicas, morais, psicológicas), sem que possam esboçar uma mínima reação.
Concebido e dirigido pela atriz Marta Paret, o espetáculo toma o espaço de uma casa/mansão no Cosme Velho, o conjunto de galerias de arte Z42. Na entrada, uma atriz conduz a plateia até o sótão. Esse primeiro salto, pois subimos para as revelações e não descemos a um porão, é o maior indicador do que nos espera: vamos elevar a nossa voz e o que será mostrado.
São oito mulheres que, utilizando o gênero escrita de si, irão, em primorosas atuações, contar o incontável — jogar o manto fora, mostrar os cabelos, os rostos, os corpos e, sobretudo, as almas. Ângela Câmara, Beatriz Marques, Darla Ferreira, Dayse Pozato, Flávia Fafiães, Giedre Bonfim, Luciana Maia e Marta Paret tais qual Penélope, tecem e destecem, com episódios de suas próprias teias, em um cenário que apresenta pequenos ambientes, simbólicas velas, a visão de Cristo, tudo milimetricamente arrumado.
A força e o impacto se fazem de forma totalmente doce. Não há gritos, choros nem ranger de dentes, apenas vozes firmes, sem medo, que acendem as velas, iluminam nossos sentimentos, fazem-nos pensar que mundo é esse — como podem tratar mulheres só por serem mulheres, sem respeito e sem afeto? E chegamos à conclusão de que só a vontade de ferro e a coragem, como desse grupo de atrizes e de Marta Paret, são capazes de nos levar a dizer: vamos revelar cada um que abusa e maltrata as mulheres.
Fotos: Tatiana Guinle/Divulgação
Serviço:
Z42 Arte. Rua Filinto de Almeida 42, Cosme Velho
Sábados, às 20h
Domingos, às 19h