O senso comum costuma brincar que as famílias só se encontram em festas importantes ou nos enterros. E esses encontros misturam boas lembranças, risadas e antigas picuinhas, mas podem gerar, muitas vezes, a abertura da caixa de Pandora, os mais horríveis segredos. Esse é, exatamente, o tema de Festa de Família e de O Funeral.
Encenadas em horários contínuos pela Companhia Teatro Esplendor, fundada pelo ator, diretor e produtor Bruce Gomlevsky, O Funeral, escrita em 2011, inédita no Brasil, é o prosseguimento da saga familiar retratada em Festa de Família. São 16 atores em cena mostrando todos os horrores que uma vida de família que se pretende de comercial de margarina, mas que, na verdade, reencena os fatos que nem os piores pesadelos seriam capazes de descrever.
“Testemunhar os horrores inimagináveis que uma família passa durante tradicionais celebrações deixam a pessoa com uma sensação de ter sido avisada. No entanto, as questões que aparecem e novos padrões de pensamento e de ação que surgem, em ambos os textos, buscam a incentivar a reflexão sobre as escolhas pessoais e sistemas coletivos que podem levar além do emaranhado de negação”, diz Thomas Vinterberg, cineasta, dramaturgo e roteirista dinamarquês, autor dos dois textos.
Os cenários de Bel Lobo realizam a proposta tanto do diretor Bruce Gomlevsky como do autor: inserir o espectador como um participante das duas celebrações. Em Festa em Familia, sentados à mesma mesa, passamos o jantar com o coração apertado com o momento sabido em que o caldo vai virar. Em O Funeral presenciamos o caldo totalmente esparramado. E apenas nos resta, discretamente, tentar limpar os respingos.
Serviço:
Mezanino do Espaço SESC
Sexta e sábado
Festa de Família às 20h
O Funeral às 21h
Domingo
Festa de Família às 19h
O Funeral às 21h
IMPLACÁVEL É O TEMPO
Ninguém é mais sórdido,
Mais cruel,
Mais cataclísmico
Senão o próprio tempo.
Silenciosamente rouba nossas vidas
Alimentando-se de nossa infância,
Embriagando-se de nossa juventude.
Para que, no final,
Sobre em cada rosto
Pese a sua maldade.
Ele permanecerá jovem e inabalável,
Implacável como um predador,
Pois o gosto de sangue novo o atrai.
Mas por que o tempo é assim?
Será a solidão que nunca o abandona?
Ou a indiferença daqueles que o temem?
Enclausurado vive em sua redoma;
Impávido, insensível,
Seus meios justificam os fins.
Titânico, colosso:
O princípio,
O meio,
O fim.
(Agamenon Troyan)